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IA e o amanhã das finanças: por que o senso crítico é nosso maior ativo

Por José de Carvalho Junior, co-fundador e CEO da Muevy, fintech B2B autorizada pelo Banco Central como Iniciadora de Pagamentos (ITP), especializada em conectar Pix, Open Finance, bandeiras globais e stablecoins para automatizar cobranças e transferências internacionais

A Inteligência Artificial (IA) deixou de ser apenas “mais uma onda” tecnológica para se transformar em um verdadeiro tsunami de mudanças. Diferente de avanços anteriores, a IA de hoje traz impactos profundos e abrangentes. 

Não estamos diante de uma marola passageira, mas de uma força que exige atenção — e que não irá simplesmente dominar ou substituir os humanos. Pelo contrário: qualidades como empatia e senso crítico serão ainda mais valiosas nesse novo cenário. 

Em outras palavras, a chegada desse tsunami tecnológico redefine as regras do jogo sem eliminar o valor humano — uma revolução que pede adaptação, mas sem abrir mão da nossa essência.


Impactos no mercado de trabalho e competências

Com a IA avançando rapidamente, surgem preocupações sobre empregos e habilidades. Um estudo do Goldman Sachs estimou que dois terços dos empregos atuais têm parte de suas tarefas expostas à automação por IA, e um quarto das ocupações podem ser completamente substituídas no futuro próximo. 

Essa automação em massa já causa “desorganização” no mercado de trabalho, pois tudo o que pode ser automatizado está sendo automatizado. Por exemplo, a Salesforce revelou que 30% a 50% do trabalho da empresa já é realizado por IA, o que veio acompanhado da demissão de cerca de 1.000 funcionários – ao mesmo tempo em que contrataram outros 1.000 especializados em vender suas soluções de IA.

De forma similar, a Amazon admitiu que a adoção de IA tornará necessária “menos gente fazendo alguns trabalhos que são feitos hoje”. No entanto, esse cenário não precisa ser apenas pessimista. Em vez de substituir integralmente cada profissional, a IA frequentemente elimina tarefas repetitivas e potencializa as equipes, liberando os humanos para atividades de maior valor. 

O professor Scott Galloway observa que a mídia costuma dramatizar a ideia de “Maria, a funcionária, perdendo seu emprego para o ChatGPT”, mas a realidade é mais colaborativa do que isso. Empresas tendem a treinar funcionários em ferramentas de IA para acelerar rascunhos, análises e outras tarefas, permitindo crescimento “sem calorias” – ou seja, aumentar produtividade sem inflar o quadro de pessoal. 

Assim, o impacto da IA no trabalho será significativo, mas pode ser conduzido de modo a realocar talentos e aumentar a eficiência, em vez de simplesmente promover desemprego em massa.


Transformação no setor financeiro

No setor financeiro, o tsunami da IA já mostra sua força de transformação. Tudo, do atendimento ao cliente à gestão de riscos, está sendo reinventado pela IA. Um exemplo claro disso é a parceria entre a OpenAI e o banco digital Nubank, que adotou uma estratégia “AI-first” (IA em primeiro lugar) e incorporou IA em diversas frentes operacionais. 

Os resultados falam por si: um assistente virtual consegue resolver 55% das consultas de nível 1, lidando com 2 milhões de atendimentos via chat por mês e reduzindo o tempo de resposta em 70%. Além disso, a instituição implementou um “copiloto” de IA para auxiliar os atendentes humanos, o que tornou a resolução de chamados 2,3 vezes mais rápida, mantendo o NPS (satisfação do cliente) mais alto do setor bancário brasileiro. Na área de segurança, modelos avançados (como o GPT-4 Vision) estão analisando transações e documentos para detectar fraudes com muito mais agilidade e precisão. 

Em suma, bancos e fintechs que abraçam a IA estão se reinventando – automatizando processos internos, atendendo clientes de forma mais rápida e personalizada, e elevando seus padrões de segurança e compliance.


Agentes inteligentes e mudança de comportamento do consumidor

Outra frente de mudança são os agentes virtuais inteligentes, que prometem remodelar comportamentos de consumidores – inclusive financeiros. No varejo eletrônico já observamos essa revolução: 39% dos consumidores afirmam que já usaram IA para auxiliá-los em tarefas de compra. 

Ferramentas como ChatGPT e Perplexity vêm se tornando “assistentes de compras” capazes de pesquisar produtos, comparar preços e até realizar transações automaticamente. O resultado? O processo de compras, que antes tomava tempo e exigia navegar por diversos sites, pode ser reduzido em até 90% – de horas para poucos minutos – graças à eficiência desses agentes. 

Em certos marketplaces, até 10% do tráfego já é originado de interações via ChatGPT, evidenciando que muitos consumidores começam sua jornada de compra conversando com uma IA em vez de usando buscas tradicionais. Essa tendência aponta para um futuro em que experiências autônomas e personalizadas serão a norma. 

Podemos traçar um paralelo direto com o setor financeiro: da mesma forma que um agente de IA hoje encontra em segundos o melhor produto ao menor preço, podemos imaginar agentes financeiros inteligentes auxiliando pessoas a gerenciar suas finanças, encontrar investimentos adequados ou negociar melhores taxas de empréstimo de forma autônoma. Instituições financeiras que tornarem seus serviços “AI-ready” – isto é, aptos a interagir com sistemas autônomos – provavelmente sairão na frente. 

O tsunami da IA promete clientes cada vez mais empoderados por assistentes digitais, exigindo que bancos, corretoras e seguradoras inovem para oferecer experiências mais inteligentes, rápidas e personalizadas, ou correm o risco de ficar para trás nessa nova dinâmica.


Preparando-se para surfar a onda tecnológica

Diante desse tsunami de mudanças, há uma habilidade que se mantém como pilar insubstituível: o senso crítico. Em um mundo onde a inteligência artificial já é capaz de criar textos, imagens e até simular criatividade, o que diferencia de fato o humano é a capacidade de questionar, interpretar e avaliar contextos antes de tomar decisões.

O senso crítico é o filtro que separa informação de opinião, dado de manipulação, e resultado esperado de consequência indesejada. É ele que permite enxergar nuances, identificar inconsistências e, acima de tudo, tomar decisões com responsabilidade.

No futuro próximo, o profissional de destaque não será apenas aquele que sabe operar ferramentas de IA, mas quem consegue interrogar as respostas, desafiar os algoritmos e enxergar além das soluções prontas. Máquinas podem processar dados em escala inédita, mas ainda não compreendem plenamente a complexidade ética, cultural e emocional que envolve decisões humanas.

Cultivar o senso crítico significa desenvolver a habilidade de fazer as perguntas certas, de confrontar resultados com múltiplas perspectivas e de manter uma visão independente mesmo diante de análises sofisticadas. Essa competência será vital não apenas para evitar erros e vieses nos sistemas de IA, mas para garantir que o avanço tecnológico permaneça alinhado aos valores humanos.


Conclusão: um futuro financeiro otimista e impulsionado pela IA

Em vez de temer o tsunami da inteligência artificial, é possível antecipá-lo e se preparar para surfá-lo. A história mostra que grandes saltos tecnológicos trazem desafios, mas também enormes oportunidades para quem se adapta. 

No caso da IA, veremos serviços financeiros mais ágeis, personalizados e acessíveis, empresas mais eficientes e insights gerados em velocidades inéditas. Haverá, sem dúvida, uma reorganização das funções e do perfil de competências demandadas – tarefas repetitivas serão automatizadas, enquanto habilidades humanas diferenciadas ganharão destaque. 

A chave está em manter um olhar otimista e futurista: entender que a IA, longe de nos anular, pode nos tornar ainda mais humanos e criativos, ao delegar às máquinas o que elas fazem de melhor e liberar as pessoas para o que elas fazem de único. Assim como no surfe, é preciso preparo e equilíbrio para encarar a grande onda. 

Governos, empresas e indivíduos que investirem em educação tecnológica, capacitação e adaptabilidade estarão prontos para corresponder a esse novo mar. Aqueles que abraçarem a IA como aliada estratégica navegarão com sucesso pelas mudanças – e poderão até liderar a próxima fase da evolução no setor financeiro. 

Afinal, o futuro das finanças pertence a quem aprende a dançar conforme a maré tecnológica, aproveitando a força da onda a seu favor, em vez de lutar contra ela. 

Como enfatiza Walter Longo, a IA chegou como um tsunami, mas bem administrada, ela nos deixará mais humanos e poderá ampliar mercados e oportunidades, desde que estejamos preparados para a jornada.

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