O agronegócio brasileiro, que encerrou 2024 com um PIB de R$ 2,72 trilhões, não apenas sustenta a economia, mas também influencia dinâmicas em outros setores. Em 2025, a pujança do campo se manifesta de duas maneiras: a adaptação de mercados tradicionalmente urbanos, como o imobiliário, aos seus ciclos financeiros, e a consolidação de grupos regionais como novos players de relevância.
Assim, os cenários de liquidez no campo têm gerado um fluxo de capital que, muito além de ser reinvestido no próprio setor, tem impulsionado outros mercados, como o de imóveis. Em Itapema (SC), por exemplo, uma das cidades com o metro quadrado mais valorizado do Brasil, construtoras como a Gandin Construtora estão se adaptando para atender a esse novo perfil de investidor.
“Grande parte dos nossos compradores vem do interior do Paraná, do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul. São empresários do campo que enxergam no imóvel de alto padrão uma forma segura de preservar valor, com retorno proporcional ao que investem”, explica Marcos Gandin Junior, sócio da empresa.
A Gandin é uma das empresas que precisa fazer como “dever de casa” a adequação de seu fluxo financeiro ao agronegócio, pois sua estimativa é de que 70% dos clientes da construtora vêm do agro, por isso os planos de pagamento precisam ser alinhados ao calendário da safra, e não mais ao parcelamento mensal tradicional.
O segmento de empreendimentos imobiliários é um dos grandes beneficiados pela adaptação ao consumidor agro, pois com o perfil de investidor “patrimonialista”, pode-se apostar numa demanda por imóveis com potencial de valorização constante e que possam ser usados pela família ou mesmo gerar renda recorrente.
Mas não somente empresas ou setores têm suas estratégias linkadas nos fluxos de negócio do agro e até mesmo cidades inteiras, por vezes, estão intrinsecamente ligadas ao capital que vem do campo, que termina por atuar como o principal motor de crescimento e desenvolvimento local.
Entre as cidades em que suas economias estão intrinsecamente ligadas ao agro estão Sorriso, no Mato Grosso, e Rio Verde, em Goiás. A GZM apurou mais detalhes destas e outras cidades que são marcadas pela economia do campo em seus fluxos gerais.
Sorriso, o alto do pódio: conhecida como a “Capital do Agronegócio”, Sorriso, no Mato Grosso, lidera o ranking nacional em produção agrícola, com um valor de produção de R$ 8,3 bilhões. A cidade se destaca na produção de soja e milho em larga escala, além do algodão, e sua economia é baseada na exportação de grãos. A cidade também é uma referência global em agricultura de precisão e mecanizada.
São Desidério, destaque no Nordeste: localizada na região do Matopiba (acrônimo para o cinturão agrícola entre os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia),a cidade baiana de São Desidério é considerado o principal polo do agronegócio no Nordeste. Com um valor de produção de R$ 7,8 bilhões, a cidade também se destaca, como Sorriso, pelo cultivo de algodão, soja e milho, combinando solos férteis, clima favorável e tecnologia de irrigação.
Sapezal de brancos campos: a cidade matogrossense se destaca pelo valor de sua produção, em torno de R$ 7,5 bilhões, sendo um importante centro produtor de grãos, como soja e milho, mas é no algodão que a cidade se destaca. Sozinho, o município é responsável por mais de 15% da produção nacional deste produto, na maioria das vezes produzido com agricultura de precisão e práticas sustentáveis.
Rio Verde além das plantas: em Goiás, Rio Verde se apresenta como uma das protagonistas do agronegócio brasileiro. A cidade é a segunda maior produtora de soja do Brasil, mas não fica somente nisso e também possui uma forte produção de milho, carnes e laticínios.
Cascavel e seu modelo de negócio: no oeste do Paraná, Cascavel tem sua economia ligada ao agronegócio e a indústria alimentícia, mas também é movida pela forte tradição e base cooperativista. Centro do cooperativismo paranaense, suas instituições movimentam bilhões anualmente no agronegócio, como a Coopavel. Um destaque é a tradicional Expocascavel, um evento local que reforça a marcante identidade rural da região.
Observando esses exemplos e visitando os locais podemos ver como o desenvolvimento do agronegócio gerou um impacto transformador, criando um fluxo de recursos que dinamizou a economia local e impulsionou a prosperidade. Como se pode imaginar, a alta produtividade do campo termina por se traduzir em um aumento do PIB local, que por sua vez financia melhorias em infraestrutura e serviços.
E foi o sucesso na produção de commodities que transformou esses municípios em pólos de desenvolvimento, atraindo uma nova população e estimulando o crescimento do setor de serviços. Assim, a riqueza gerada no campo, reinvestida na economia local, termina criando um ciclo virtuoso de prosperidade.
Como resultado, essas cidades não apenas se destacam por sua robustez econômica, mas também pela qualidade de vida, com um desenvolvimento urbano que caminha junto com o avanço tecnológico e a modernização do campo.