A farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, conhecida mundialmente por seus medicamentos para diabetes e obesidade como Ozempic e Wegovy, anunciou nesta quarta-feira uma reestruturação drástica que inclui o corte de 9 mil postos de trabalho — o equivalente a 11% de sua força global.
A medida, que afetará diretamente 5 mil funcionários na Dinamarca, visa economizar cerca de 8 bilhões de coroas dinamarquesas (US$ 1,3 bilhão) por ano até o fim de 2026.
O anúncio marca mais um capítulo turbulento na trajetória recente da empresa, que há pouco mais de um ano era considerada a companhia mais valiosa da Europa. Desde então, a Novo Nordisk enfrentou uma série de desafios: concorrência acirrada com a Eli Lilly, resultados decepcionantes em testes clínicos, perda de valor de mercado e uma mudança na liderança executiva.
“Nossos mercados estão evoluindo, particularmente em obesidade, que se tornou mais competitivo e orientado ao consumidor. Nossa empresa precisa evoluir também”, declarou à imprensa o novo CEO, Maziar Mike Doustdar, que assumiu o cargo no mês passado com a missão de reverter o desempenho da companhia.
De gigante em expansão à retração estratégica
A queda de 60% nas ações da Novo Nordisk em um ano reflete a dificuldade da empresa em manter sua liderança no mercado de medicamentos GLP-1, categoria que revolucionou o tratamento da obesidade.
Apesar de ter sido pioneira com o Ozempic, a farmacêutica foi lenta em adaptar sua estratégia comercial para canais diretos ao consumidor, o que permitiu que concorrentes ganhassem terreno.
A reestruturação inclui não apenas os cortes de pessoal, mas também uma simplificação da estrutura organizacional, com o objetivo de acelerar a tomada de decisões e liberar recursos para investimentos em ciência, operações comerciais e manufatura. A empresa já havia iniciado um congelamento de contratações, o que resultou na demissão de novos colaboradores antes mesmo do início oficial de seus contratos.
Impacto financeiro e reação do mercado
A Novo Nordisk estima que o plano de reestruturação terá um custo único de 8 bilhões de coroas dinamarquesas, afetando diretamente os lucros deste ano. A projeção de crescimento do lucro operacional para 2025 foi revisada para baixo, passando de 10%–16% para 4%–10%.
Apesar do tom negativo, o mercado reagiu com leve otimismo: as ações da empresa subiram cerca de 3% na manhã de quarta-feira em Copenhague, sinalizando que investidores veem na reestruturação uma tentativa concreta de recuperação.
Novo foco: ciência, agilidade e consumidor final
A mudança de postura da Novo Nordisk reflete uma transição estratégica: de uma farmacêutica tradicional focada em insulina para uma empresa voltada ao consumidor final, com produtos de apelo amplo e forte presença em saúde preventiva.
A empresa agora busca se tornar mais ágil, mais enxuta e mais conectada às demandas do mercado — especialmente no segmento de obesidade, que se tornou um dos mais competitivos e lucrativos da indústria farmacêutica.