O uso de dados e tecnologia se consolida como um pilar fundamental para o futuro do agronegócio, e empresas globais, como a Husqvarna, precisam estar alinhadas com suas estratégias a essa nova realidade.
A multinacional sueca, com 335 anos de história, tem reforçado sua atuação no mercado brasileiro com foco na digitalização do campo e um dos passos mais recentes nesse sentido foi a aquisição da InCeres, uma plataforma especializada em análise de solo.
A estratégia da Husqvarna, segundo a empresa, é unir a tradição em equipamentos para o campo, como motosserras e motocultivadores, com a inteligência agronômica para oferecer soluções completas aos agricultores.
Tecnologia como resposta ao dilema da sustentabilidade
A discussão sobre tecnologia aplicada no agro faz parte de uma dos temas mais desafiadores que o setor enfrenta neste momento, que é a pressão por uma produção mais sustentável e eficiente para manter sua competitividade global.
Nesse contexto, a tecnologia de análise de solo da InCeres surge como uma ferramenta que pode apoiar essa busca. A plataforma transforma dados em decisões, permitindo aos agricultores otimizar o uso de insumos, reduzir desperdícios e, consequentemente, minimizar o impacto ambiental.
Para a empresa, a visão de que o solo é a base da agricultura e que sua compreensão detalhada é essencial para o sucesso do negócio é o que impulsiona a digitalização. A tecnologia, afinal, pode permitir uma atuação mais precisa e com maior responsabilidade ambiental, abordando os dilemas na área de sustentabilidade que o setor enfrenta globalmente e que no Brasil não é diferente.
A atuação da Husqvarna no Brasil
Presente no Brasil há mais de 45 anos, a Husqvarna mantém sua base fabril em São Carlos (SP), que está em processo de expansão. A empresa planeja triplicar sua capacidade produtiva até 2026, com a expectativa de alcançar 1 milhão de equipamentos por ano.
Além disso, a companhia investe em parcerias estratégicas com cooperativas para levar tecnologia ao campo em um movimento que busca atender tanto a agricultura familiar quanto a de larga escala.
O portfólio da empresa no país inclui desde equipamentos para o preparo do solo e irrigação, até um robô cortador de grama, que atende tanto o uso profissional quanto o residencial. O grupo possui cerca de 14 mil funcionários e atua em mais de 100 países, com 28 fábricas e mais de 3 mil patentes concedidas.
A GZM entrevistou Mauro Favero, Presidente da unidade de negócios de Agricultura da Husqvarna, para saber mais detalhes das operações da empresa em 2025. Confira:
GZM: Como a Husqvarna espera que o uso de plataformas de análise de solo, como a InCeres, mude a tomada de decisão nas propriedades rurais e promova uma agricultura mais inteligente e sustentável?
Favero: A aquisição da InCeres pela Husqvarna representa um passo estratégico importante para ampliar a oferta de soluções integradas ao produtor rural. A plataforma, especializada em análise de solo, oferece suporte à gestão agronômica, permitindo que os agricultores tomem decisões baseadas em dados, para além das técnicas sobre a nutrição das plantas, o que impacta diretamente na produtividade, na qualidade do cultivo e na sustentabilidade das lavouras.
Com a InCeres, a Husqvarna passa a atuar também no suporte ao produto final, e não apenas na mecanização da propriedade. Essa sinergia entre equipamentos e inteligência digital torna o processo produtivo mais eficiente e sustentável, promovendo o uso racional de insumos e evitando a degradação do solo.
Trata-se de uma iniciativa que responde à crescente demanda por agricultura de precisão e contribui para a profissionalização do pequeno e médio produtor, ao integrar dados, tecnologia e sustentabilidade no campo.
GZM: Com a digitalização crescente no agro, quais são os principais desafios enfrentados pelos produtores na adoção de novas tecnologias, e como empresas como a Husqvarna estão contribuindo para vencer essas barreiras?
Favero: A digitalização do agro traz grandes oportunidades, mas também impõe desafios importantes, especialmente para os pequenos e médios produtores. Entre as principais barreiras estão a complexidade tecnológica, a dificuldade de acesso a treinamentos e a resistência inicial à mudança de processos tradicionais.
A Husqvarna atua diretamente para superar esses obstáculos ao desenvolver produtos robustos, de fácil operação e manutenção, adaptados à realidade do agricultor familiar. Todos os equipamentos são testados em campo, em parceria com os usuários, garantindo que as soluções entreguem resultados práticos e estejam alinhadas às necessidades reais do dia a dia no campo.
Além disso, a empresa investiu na criação de um novo Centro de Treinamento e Experiência na fábrica de São Carlos, com oficinas práticas e espaços de imersão tecnológica, permitindo que os produtores aprendam a utilizar os recursos disponíveis com mais autonomia e confiança.
GZM: Como a combinação de mecanização com inteligência agronômica pode ajudar pequenos e médios produtores a aumentarem a produtividade sem comprometer a saúde do solo?
Favero: A produtividade sustentável depende do equilíbrio entre eficiência operacional e manejo responsável dos recursos naturais. Nesse contexto, a combinação entre mecanização, com equipamentos como motocultivadores, pulverizadores e roçadeiras, e plataformas de inteligência agronômica, como a InCeres, representa um salto qualitativo para os pequenos e médios produtores.
Por meio da mecanização, o agricultor ganha agilidade, ergonomia e mais segurança nas etapas da produção, enquanto a análise de solo viabiliza um manejo mais preciso e estratégico. Essa integração permite, por exemplo, a aplicação localizada e racional de insumos, evitando desperdícios e reduzindo impactos ambientais. A Husqvarna tem apostado fortemente nessa convergência de soluções, oferecendo um portfólio completo que cobre todas as etapas da produção agrícola, sempre com foco na produtividade, na qualidade da lavoura e na preservação do solo.
GZM: A expansão da base fabril da Husqvarna e o portfólio de soluções para agricultura familiar indicam um foco estratégico nesse segmento. Qual o potencial da agricultura familiar como motor da inovação no campo brasileiro?
Favero: A Husqvarna enxerga a agricultura familiar não apenas como um setor essencial para a segurança alimentar do Brasil, mas também como uma força impulsionadora de inovação no campo. A empresa acredita que o contato direto com produtores de pequenas e médias propriedades, que enfrentam múltiplos desafios com poucos recursos, permite identificar oportunidades reais de transformação tecnológica com foco em acessibilidade, simplicidade e eficiência.
A expansão da fábrica de São Carlos, que prevê triplicar a capacidade produtiva até 2026, está alinhada a esse compromisso. Parte do investimento é direcionado ao desenvolvimento de novos produtos voltados especificamente à agricultura familiar, com foco na versatilidade, durabilidade e facilidade de uso. Além disso, a criação de um Centro de Treinamento e o desenvolvimento de um portfólio multifuncional demonstram que esse segmento é uma prioridade estratégica para a marca, com potencial para liderar uma nova fase de profissionalização e digitalização no campo brasileiro.
GZM: Com a previsão de crescimento populacional até 2050, como a integração entre máquinas, dados e decisões pode contribuir para um agro mais resiliente e preparado para abastecer o mundo de forma sustentável?
Favero: Diante da crescente demanda global por alimentos e recursos naturais, a Husqvarna aposta em um modelo de agricultura integrada, que combina equipamentos eficientes, conectividade e inteligência agronômica para garantir um agro mais resiliente, produtivo e sustentável.
A chave está na união entre mecanização, que promove ganhos de escala e agilidade, e ferramentas como a análise de solo, que orientam o uso consciente dos insumos e o cuidado com o meio ambiente.
Com um portfólio completo voltado para pequenos e médios produtores, e iniciativas como a aquisição da InCeres e a ampliação da fábrica de São Carlos, a Husqvarna está fortalecendo sua capacidade de oferecer soluções que preparem o produtor para os desafios do futuro. Essa abordagem integrada permite aumentar a eficiência da produção sem comprometer os recursos naturais, contribuindo para um agro mais preparado para alimentar o mundo até 2050 e além.
