A inteligência artificial avança de forma acelerada no Brasil e no mundo, movimentando mercados bilionários e transformando setores inteiros. No entanto, ainda que o tema seja frequentemente associado à inovação, o protagonismo feminino nesse campo segue aquém do necessário. Um estudo da Laboratória em parceria com a McKinsey revelou que apenas 20% das novas contratações em tecnologia no Brasil são de mulheres.
Segundo o IBGE, a situação começa ainda na formação, pois entre os concluintes de cursos de Ciência da Computação e Tecnologia da Informação, a presença feminina caiu de 17,5% em 2012 para apenas 15% em 2022. Fomentar mulheres líderes em IA não é apenas uma pauta de diversidade, mas uma necessidade estratégica para garantir inovação inclusiva, ética e sustentável.
Pesquisas mostram como a falta de diversidade impacta diretamente os resultados de empresas e sociedades. O Boston Consulting Group apontou em 2018 que organizações com maior diversidade na liderança alcançam 19 pontos percentuais a mais de receitas provenientes de inovação em comparação às menos diversas. A McKinsey, em 2023, reforçou que empresas no quartil superior em diversidade de gênero têm probabilidade significativamente maior de superar a média de lucratividade do setor. Esses dados evidenciam que ampliar a presença feminina em cargos estratégicos não é um gesto simbólico, se trata de uma decisão com impacto econômico real.
Entretanto, parte do mercado tecnológico alega que, em um mercado emergente como o da inteligência artificial, a prioridade deveria ser acelerar a adoção da tecnologia, independentemente de quem a lidera. Esse argumento desconsidera o fato de que sistemas de IA refletem as experiências e valores de quem os projeta. Como alertam estudos da Harvard Business Review, equipes homogêneas tendem a tomar decisões menos criativas e correm maior risco de reproduzir vieses. Portanto, deixar de lado a diversidade no momento de estruturar a base dessa transformação tecnológica pode comprometer não apenas a inovação, mas também a credibilidade social e regulatória dos sistemas desenvolvidos.
Os desafios se tornam ainda mais evidentes quando analisamos a liderança no setor. De acordo com a Fullstack Academy, mulheres ocupam apenas 24% dos cargos executivos no segmento de inteligência artificial e somente 10% das empresas são comandadas por elas. A Russell Reynolds Associates destaca ainda que, embora representem 30% dos cargos de liderança em organizações centradas em IA, esse número despenca para 10% em posições técnicas de topo ou de CEO.
Esse déficit de representatividade compromete a pluralidade de ideias em um momento em que o mercado brasileiro de IA deve atingir US$ 13,3 bilhões em 2024 e alcançar quase US$ 100 bilhões até 2033, segundo a Grand View Research. Em outras palavras, a ausência de mulheres na liderança significa perder oportunidades em um setor que promete moldar a economia do futuro.
Por outro lado, há sinais de avanço. A Deloitte estima que a adoção de IA por mulheres tende a alcançar a paridade nos Estados Unidos até 2025, e no Brasil já observamos empreendedoras e pesquisadoras ganhando visibilidade. Casos como o da cientista da computação Nina da Hora, que atua na discussão pública sobre justiça algorítmica, mostram como lideranças femininas podem unir excelência técnica e compromisso ético. Esse modelo híbrido é justamente o que falta para que o desenvolvimento de IA se torne mais alinhado às necessidades sociais.
O debate sobre mulheres na inteligência artificial não pode ser reduzido a uma questão de representatividade. Trata-se de um vetor de competitividade e sustentabilidade para o Brasil. O país, que tem 97% de suas empresas formadas por pequenos negócios e já prevê R$ 23 bilhões em investimentos públicos em IA até 2028, precisa de lideranças diversas para transformar inovação em valor real para a sociedade.
Reverter a baixa presença feminina é, portanto, uma decisão estratégica: sem mulheres liderando esse processo, a inteligência artificial corre o risco de perpetuar desigualdades em vez de solucioná-las.