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A solução que usa ‘nanoaliados’ para fortalecer o reflorestamento no Brasil

Iniciativa adota como base a nanotecnologia e integra o projeto paranaense de restauração da Mata Atlântica

Cientistas de um projeto paranaense usam nanopartículas para ajudar plantas a resistir ao estresse climático, um fator que compromete quase metade das iniciativas de restauração florestal no país.

A desregulação climática, que atinge as regiões sul e sudeste do Brasil, é uma das grandes barreiras para o sucesso do reflorestamento na Mata Atlântica. Segundo o MapBiomas, o estresse abiótico — provocado por questões climáticas como a falta de água e as altas temperaturas — compromete cerca de 46% das iniciativas de reflorestamento no Brasil. Diante desse cenário, o país tem dificuldades para alcançar a meta de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030.

Para enfrentar esse desafio, o projeto paranaense NAPI Biodiversidade: RESTORE (natuRe-basEd SoluTions for imprOving REforestation) tem investido em uma solução inovadora que utiliza a nanotecnologia. A iniciativa usa compostos que funcionam como “nanoaliados”, ajudando as plantas a otimizar sua resposta a diferentes estresses ambientais.


O que são os ‘nanoaliados’?

A solução se baseia em uma técnica de encapsulação que funciona como uma espécie de ‘cápsula de liberação lenta’ para as plantas. Dentro dessas ‘cápsulas’ estão doadores de óxido nítrico, uma molécula que atua como sinalizadora em diversos processos biológicos das plantas, como na sua resposta a condições adversas. Para criar as nanopartículas, os cientistas utilizam a quitosana, um material natural e biodegradável que é subproduto da indústria pesqueira. A nanoencapsulação permite que a planta utilize os efeitos do óxido nítrico por um período mais longo, tornando-a mais resistente.

Em experimentos recentes, a solução foi testada em mudas de três espécies da Mata Atlântica, e os resultados mostraram efeitos positivos em parâmetros fisiológicos como a fotossíntese e o acúmulo de biomassa. As mudas que receberam a formulação nanoencapsulada superaram as que não foram beneficiadas pela solução, comprovando o potencial da tecnologia para fortalecer espécies florestais em condições adversas.


Um ‘impulso inicial’ para as mudas

A aplicação dessa abordagem é especialmente relevante se considerarmos que 70% das áreas de restauração no Brasil têm solos degradados e pouca disponibilidade de água. Segundo o coordenador do NAPI RESTORE, professor Halley Caixeta de Oliveira, o uso de bioinsumos nanotecnológicos pode funcionar como um “impulso inicial”, garantindo que as plantas jovens consigam superar o estágio mais vulnerável de seu desenvolvimento. “Ao melhorar a eficiência no uso da água e otimizar a capacidade fotossintética, esses compostos ajudam a compensar as deficiências do ambiente a ser restaurado e a acelerar a regeneração ecológica”, pontuou o professor.

Além disso, a escolha da quitosana como base das nanopartículas reforça a sustentabilidade do projeto. Por ser um polímero natural, biodegradável e de baixo custo, obtido a partir de resíduos industriais, a quitosana se alinha aos princípios da economia circular, unindo inovação, conservação e reaproveitamento de recursos naturais.


A Mata Atlântica em 2025

Com base em dados de fontes oficiais como a Fundação SOS Mata Atlântica e o MapBiomas, a GZM pesquisou a situação de conservação da Mata Atlântica em 2025, uma situação marcada por avanços, mas também por desafios persistentes:


Desmatamento e Cobertura Florestal:

– O desmatamento na Mata Atlântica registrou uma queda de 14% em 2024, de acordo com o Atlas da Mata Atlântica, coordenado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo INPE. No entanto, a perda de matas maduras, que possuem maior biodiversidade, teve uma redução de apenas 2%.

– Em 2024, foram desmatados 14.366 hectares de florestas maduras, uma redução considerada pequena pela SOS Mata Atlântica diante do objetivo de desmatamento zero. O Piauí e a Bahia foram os estados com a maior área desmatada.

– Apesar da diminuição geral, o desmatamento ainda representa uma grande ameaça para o futuro do bioma, que sustenta cerca de 70% da população brasileira e mais de 80% do PIB nacional.



Restauração e Proteção:

– A restauração de áreas degradadas é um dos principais focos de conservação. No entanto, o estresse abiótico, provocado por fatores climáticos como a falta de água, compromete cerca de 46% das iniciativas de reflorestamento no Brasil.

– O Brasil tem como meta a restauração de 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. Um exemplo de avanço é o estado de Minas Gerais, que superou 70% da sua meta de restauração da Mata Atlântica, com o plantio de mais de 5 milhões de mudas.

– Um estudo inédito da SOS Mata Atlântica aponta que menos de 10% da Mata Atlântica está protegida por Unidades de Conservação, um percentual baixo comparado com a meta global de 30%.



Desafios Adicionais:

– A agropecuária continua sendo o principal vetor de pressão sobre o bioma.

– Cerca de 60% dos municípios do bioma têm menos de 30% de vegetação nativa.

– O MapBiomas também destaca que a Mata Atlântica teve o menor percentual de áreas desmatadas sob embargo entre os biomas brasileiros em 2024, com apenas 2% do total desmatado submetido a essa restrição.

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