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Argentina intensifica defesa do peso em meio à crise política e econômica sob Javier Milei

Governo enfrenta pressão cambial, queda de popularidade e desafios de governabilidade enquanto tenta manter plano de ajuste fiscal

A Argentina vive um momento de forte turbulência econômica e política. O governo do presidente Javier Milei tem intensificado esforços para conter a desvalorização do peso, em meio à queda na demanda por veículos elétricos, inflação persistente e crescente insatisfação popular. 

A estratégia inclui intervenções diárias do Tesouro no mercado cambial, com vendas de até US$ 300 milhões por dia para manter a moeda dentro da faixa de controle entre 1.000 e 1.400 pesos por dólar.

Reservas em queda e risco cambial

As reservas líquidas do país giram em torno de US$ 8 bilhões, abaixo da meta de US$ 10 bilhões exigida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) até o fim do ano. A pressão sobre o câmbio aumentou após o fracasso do sistema de bandas cambiais, que não conseguiu conter a fuga de capitais. O cenário é agravado pela retração econômica: o Banco Mundial projeta uma contração de 3,5% no PIB argentino em 2025.

Inflação recua, mas pobreza e desemprego crescem

Apesar de uma queda na inflação — que passou de 250% ao ano em 2023 para cerca de 60% em julho de 2025 — o custo social do ajuste fiscal é elevado. O desemprego atingiu 11,2% no segundo trimestre e a pobreza já afeta 54% da população. O consumo caiu mais de 15% desde o início do ano, refletindo o impacto das medidas de austeridade.

Desgaste político e derrota eleitoral

A crise econômica tem repercussões diretas na popularidade de Milei. Segundo pesquisa da AtlasIntel, 54% dos argentinos desaprovam seu governo, o maior índice desde o início do mandato. O presidente sofreu uma derrota significativa nas eleições provinciais de Buenos Aires, onde o peronismo obteve 47,3% dos votos contra 33,7% da coalizão governista. O resultado é considerado um revés estratégico, dificultando a aprovação de reformas no Congresso.

Governabilidade em risco

Com a proximidade das eleições legislativas de outubro, Milei enfrenta um cenário de governabilidade cada vez mais desafiador. Sem maioria parlamentar, o presidente já teve projetos vetados e enfrenta resistência da oposição, que boicotou a apresentação do orçamento de 2025. A proposta prevê zerar o déficit fiscal e reduzir a inflação para 18% ao ano, metas consideradas ambiciosas por analistas.

Corrupção e desgaste institucional

A crise política se aprofunda com denúncias envolvendo Karina Milei, irmã e chefe de gabinete do presidente, acusada de participar de um esquema de propinas em uma agência estatal. Embora não haja denúncia formal, o episódio fragiliza o discurso anticorrupção do governo e alimenta divisões internas.

Cenários possíveis

Economistas internacionais alertam para os riscos da chamada “terapia de choque” adotada por Milei. Joseph Stiglitz e Ha-Joon Chang apontam que ajustes sem proteção social podem levar à instabilidade prolongada e à desindustrialização. Entre os cenários possíveis estão:

  • Instabilidade prolongada, com queda de popularidade e perda de apoio no Congresso
  • Ajuste negociado, com moderação nas reformas e busca de consenso político
  • Reversão política, com derrota eleitoral e retorno de forças oposicionistas

A defesa do peso argentino tornou-se símbolo de um governo que tenta manter sua agenda econômica em meio a uma tempestade política e social. O desfecho dependerá da capacidade de Milei de equilibrar austeridade com governabilidade — e de reconquistar a confiança de uma população cada vez mais pressionada.

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