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Assembleia Geral da ONU: entre ventos de outono e ventos de mudança

Imagem do Presidente Lula em posição para iniciar seu discurso na Assembleia Geral da ONU
Discurso de Lula marca abertura das reuniões em Nova York e sinaliza nova fase nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos

Nova York amanheceu com céu limpo e temperatura amena nesta terça-feira, 23 de setembro, dia de abertura da 79ª Assembleia Geral da ONU. O outono recém-chegado tingia de dourado as copas das árvores do Central Park, enquanto helicópteros sobrevoavam Manhattan e esquemas de segurança se intensificavam ao redor da sede das Nações Unidas, no East Side. Delegações de 193 países se reuniram para debater os rumos do planeta em um dos momentos mais tensos da geopolítica recente.

O clima nas ruas era de expectativa e atenção. Taxistas comentavam sobre os bloqueios, jornalistas se aglomeravam nas entradas dos hotéis diplomáticos e manifestantes se posicionavam com cartazes sobre Gaza, Ucrânia, clima e direitos humanos. Dentro do salão principal da ONU, o Brasil, como de costume, abriu os discursos com o pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em sua fala, Lula cobrou uma reforma urgente do Conselho de Segurança da ONU, criticou a concentração de poder nas mãos de poucos países e defendeu o fortalecimento do multilateralismo. O presidente brasileiro também destacou a importância da COP30, que será realizada em Belém (PA), e pediu mais ambição dos países ricos no financiamento climático.

“O mundo está cansado de promessas não cumpridas. Precisamos de ação, não apenas acordos”, afirmou Lula, em tom firme.

A fala foi recebida com atenção por líderes europeus e africanos, que elogiaram o compromisso brasileiro com a justiça social e ambiental. Representantes da China e da África do Sul destacaram a coerência do discurso com as pautas do Sul Global. Já autoridades americanas reagiram com cautela, especialmente diante das críticas indiretas à governança internacional.


Sinal verde para negociações comerciais

Em um gesto que surpreendeu parte da comunidade diplomática, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump se encontraram pessoalmente nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, após seus respectivos discursos no plenário da organização. O encontro, realizado em uma sala reservada no edifício sede das Nações Unidas, durou cerca de 30 minutos e foi descrito por interlocutores como “cordial e pragmático”.

Segundo fontes próximas às delegações, o diálogo girou em torno de temas comerciais e estratégicos, com destaque para a possibilidade de retomada de negociações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos. A sinalização de Trump, feita em seu próprio discurso, de que estaria aberto a rever tarifas com países parceiros foi considerada um gesto relevante — especialmente diante das tensões comerciais dos últimos anos.

Lula, por sua vez, reforçou o interesse brasileiro em ampliar o acesso a mercados norte-americanos para produtos do agronegócio, energia limpa e tecnologia. A conversa também incluiu menções à cooperação em segurança alimentar, investimentos em infraestrutura e transição energética.

Embora os dois líderes tenham adotado tons distintos em seus discursos — com Lula defendendo o multilateralismo e criticando a concentração de poder na ONU, e Trump atacando diretamente a organização — o encontro pessoal mostrou que, na diplomacia, o diálogo direto ainda é uma ferramenta poderosa.

 “Foi uma conversa objetiva, sem rodeios. Os dois presidentes sabem que há interesses mútuos e que o pragmatismo pode abrir caminhos”, afirmou um diplomata brasileiro que acompanhou a reunião.

O gesto de aproximação ocorre em um momento em que o Brasil busca ampliar sua inserção internacional e diversificar parcerias comerciais. A expectativa é que, nos próximos meses, equipes técnicas dos dois países avancem em propostas concretas para reduzir barreiras tarifárias e estimular investimentos cruzados.

 

Os principais pontos do discurso de Lula na ONU: um chamado à reforma global, à justiça climática e ao multilateralismo efetivo

Como já é tradição, o presidente do Brasil foi o primeiro chefe de Estado a discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU. Em sua fala, Luiz Inácio Lula da Silva abordou temas centrais da agenda internacional, com forte tom crítico à estagnação institucional e à desigualdade global. A seguir, os principais pontos:

1. Reforma da ONU e do Conselho de Segurança: Lula fez uma cobrança direta por uma reforma ampla da Carta das Nações Unidas e do Conselho de Segurança, classificando como “inaceitável” a exclusão da África e da América Latina dos assentos permanentes. Segundo ele, o atual modelo reflete um passado colonial e enfraquece a legitimidade da ONU.

“O uso da força sem amparo no direito internacional está se tornando regra”, afirmou, ao criticar a paralisia diante de conflitos como os da Ucrânia e da Faixa de Gaza.

2. Justiça Climática e Financiamento Verde: O presidente brasileiro cobrou que países ricos cumpram suas promessas de financiamento climático e acelerem a descarbonização. Ele destacou que o planeta está “cansado de metas não cumpridas” e que os recursos gastos em arsenais nucleares poderiam ser direcionados ao combate à fome e às mudanças climáticas.

3. Cooperação global e pandemias: Lula lamentou a falta de união internacional durante a pandemia de Covid-19 e criticou a ausência de um tratado global sobre pandemias. Ele defendeu o fortalecimento da Organização Mundial da Saúde e a criação de mecanismos de resposta mais ágeis e coordenados.

4. Multilateralismo e Pacto para o Futuro: O presidente citou o “Pacto para o Futuro”, documento aprovado pelos países-membros da ONU, como exemplo da dificuldade atual de negociação e diálogo. Segundo ele, o alcance limitado do pacto revela o paradoxo do nosso tempo: compromissos possíveis que geram resultados insuficientes.

5. Compromissos do Brasil: Lula reafirmou que seu governo não se exime da responsabilidade ambiental e que não transigirá contra crimes ambientais. Ele destacou os avanços do Brasil na redução de emissões e no combate ao desmatamento, além de mencionar a COP30, que será realizada em Belém (PA), como oportunidade para liderar a agenda climática global.

O discurso de Lula foi marcado por uma defesa firme do multilateralismo, da justiça social e ambiental, e por críticas à concentração de poder nas instituições internacionais. A fala posiciona o Brasil como voz ativa do Sul Global e reforça sua intenção de liderar debates sobre reforma institucional e desenvolvimento sustentável.


Reações Internacionais ao discurso do Presidente do Brasil na ONU

França: Fontes diplomáticas francesas elogiaram o tom conciliador do discurso, especialmente no trecho em que Lula defendeu uma reforma ampla da Carta das Nações Unidas e o fortalecimento do multilateralismo. A menção à COP30, que será sediada em Belém (PA), foi vista como um convite estratégico à cooperação climática.

Alemanha: Representantes do governo alemão destacaram positivamente o compromisso brasileiro com a transição energética e a redução das emissões. A defesa da democracia e da soberania nacional foi considerada alinhada com os valores europeus, embora tenham evitado comentar os trechos mais críticos à governança global atual.

Estados Unidos: A Casa Branca não emitiu nota oficial sobre o discurso, mas fontes ligadas ao Departamento de Estado indicaram que o governo americano recebeu com cautela as críticas à falta de reformas na ONU e à concentração de poder no Conselho de Segurança. O fato de Lula evitar ataques diretos ao presidente Donald Trump foi interpretado como um gesto diplomático.

China: Autoridades chinesas demonstraram apoio à proposta brasileira de revisão da Carta da ONU e à ampliação do diálogo entre blocos como BRICS e G20. O discurso foi considerado “maduro e estratégico”, segundo fontes da missão chinesa em Nova York.

África do Sul: O governo sul-africano elogiou a ênfase brasileira na luta contra a fome e a pobreza, temas recorrentes também na agenda africana. A proposta de Lula de promover consultas transparentes entre países em desenvolvimento foi bem recebida.

ONU: O secretário-geral da ONU, António Guterres, mencionou em coletiva que o discurso brasileiro reforça a urgência de reformas institucionais e a necessidade de ação climática coordenada. Ele destacou o papel do Brasil como “voz ativa do Sul Global”.

 

Análise GZM | A ONU como espaço insubstituível de diálogo

Apesar das críticas feitas por Trump à ONU — que chamou a organização de “obsoleta e ineficaz” —, a Assembleia Geral segue sendo o único palco onde todas as nações têm voz. A própria criação da ONU, inspirada por reflexões de Sigmund Freud e Albert Einstein sobre a necessidade de uma instância supranacional para evitar guerras, ainda não encontrou substituto.

Em tempos de polarização, conflitos armados e crises climáticas, manter canais de diálogo entre líderes mundiais é mais do que diplomacia: é sobrevivência coletiva. A ONU pode não ser perfeita, mas continua sendo o espaço onde o mundo se escuta — mesmo quando discorda.

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