O Brasil tornou-se o primeiro país do mundo a lançar um medicamento genérico de molécula de segunda geração voltado ao tratamento do mieloma múltiplo, tipo raro de câncer hematológico. O produto, desenvolvido pela farmacêutica Natcofarma Brasil, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e está disponível em todo o território nacional desde 1º de setembro.
O medicamento é indicado para pacientes adultos com mieloma múltiplo recidivado ou refratário — quando a doença retorna ou não responde aos tratamentos anteriores. A administração é intravenosa, em ciclos definidos, podendo ser combinada com outras moléculas. Segundo a empresa, o genérico representa uma redução média de 35% no preço em relação ao medicamento de referência.
Avanço no tratamento de câncer raro
O mieloma múltiplo afeta células da medula óssea responsáveis pela produção de anticorpos. De acordo com a International Myeloma Foundation, mais de 7 mil casos são diagnosticados anualmente no Brasil. Embora represente apenas 1% dos novos casos de câncer, é o segundo tipo mais comum de câncer no sangue. O diagnóstico precoce e o acesso a terapias especializadas são considerados fatores essenciais para melhorar a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes.
Atualmente, 97% do uso da molécula no Brasil ocorre no setor privado, enquanto apenas 3% dos pacientes têm acesso ao tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Genéricos ganham espaço em terapias complexas
O lançamento ocorre em um momento de expansão do mercado farmacêutico nacional. Segundo dados setoriais, o faturamento do setor deve crescer 12% em 2025 e 10,6% em 2026, consolidando o Brasil entre os dez maiores mercados globais. No primeiro semestre de 2025, o setor registrou alta de 11,5% sobre o ano anterior, alcançando R$ 138,3 bilhões.
Os medicamentos genéricos tiveram papel relevante nesse desempenho, com crescimento de 5,3% em volume e 2 bilhões de unidades vendidas. Desde 2001, o segmento gerou uma economia acumulada de R$ 341 bilhões aos consumidores, segundo a PróGenéricos.
Além do varejo, os genéricos começam a ocupar espaço em terapias de alta complexidade, como as oncológicas e hematológicas. Com o vencimento de cerca de 1,5 mil patentes até 2030, estima-se que o mercado possa crescer até 20%, com versões acessíveis para até 186 doenças, incluindo câncer, diabetes e cardiovasculares. O impacto esperado é uma redução de 30% a 40% nos custos de medicamentos adquiridos pelo SUS, que atualmente gasta cerca de R$ 20 bilhões por ano com fármacos.
Estrutura internacional e operação local
A Natcofarma Brasil é subsidiária da multinacional indiana Natco Pharma Limited. Com sede administrativa em São Paulo e centro operacional no Espírito Santo, a empresa é responsável pela importação, controle de qualidade, armazenagem em cadeia fria e distribuição nacional. A operação brasileira também coordena registros regulatórios em países da América Latina, como Colômbia, Peru e Chile.
Segundo a companhia, o lançamento do genérico reforça a estratégia de ampliar o acesso a terapias de alta complexidade com produtos de qualidade e tecnologia avançada. A empresa registra crescimento médio de 30% ao ano.