Em um momento em que a ciência quântica ganha protagonismo global, o Brasil se prepara para ocupar um papel mais relevante no cenário internacional. O relatório “A produção científica mundial em ciência e tecnologia quânticas e a participação brasileira (2014–2023)”, elaborado pela Elsevier em parceria com a Agência Bori, oferece uma radiografia inédita da atuação brasileira nesse campo estratégico. Com base em dados da plataforma SciVal, o estudo analisa a produção científica de 24 países e revela os avanços, desafios e oportunidades para o Brasil às vésperas do Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quântica, proclamado pela ONU para 2025.
Contexto global: ciência quântica como fronteira estratégica
A mecânica quântica, estabelecida há um século, deixou de ser apenas uma teoria abstrata para se tornar base de tecnologias emergentes com aplicações em segurança cibernética, computação de alto desempenho, sensores ultra precisos e comunicações invioláveis. Em reconhecimento a essa importância, a ONU declarou 2025 como o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quântica (IYQ), estimulando países a investirem em pesquisa, formação e inovação.
Sumário executivo: Brasil em 21º lugar na ciência quântica
Segundo o relatório, o Brasil ocupou o 14º lugar mundial em produção científica total em 2023, mas caiu para a 21ª posição quando se trata especificamente de ciência e tecnologia quânticas. Em 2014, o país estava em 19º lugar, o que indica uma leve perda de protagonismo na área.
Em 2023, pesquisadores brasileiros assinaram 143 novos trabalhos em ciência quântica, ficando atrás de países como Polônia, mas à frente de Bélgica e Suécia. No mesmo ano, a produção mundial foi de 12.045 artigos científicos. China e Estados Unidos lideram com folga, concentrando juntos metade da produção global.
Evolução da produção científica (2014–2023)
Entre 2014 e 2023, o mundo viu um crescimento expressivo na produção científica quântica, passando de 4.435 artigos para mais de 12 mil por ano. A China lidera com 21.860 publicações no período, seguida pelos EUA com 15.602. O Brasil contribuiu com 1.024 trabalhos, mantendo uma média estável, mas ainda distante das potências científicas.
Áreas do conhecimento: foco em Ciências Naturais e Engenharia
A produção brasileira em ciência quântica está concentrada principalmente em duas grandes áreas:
- Ciências Naturais: 65,7% das publicações
- Engenharia e Tecnologias: 28,2%
Outras áreas como Ciências Médicas, Ciências Sociais e Ciências Agrícolas aparecem com menor representatividade, indicando que o foco nacional ainda está nas bases teóricas e aplicadas da física e engenharia quântica.
Instituições líderes: USP, Unicamp e UFRJ no topo
O relatório identificou 121 instituições brasileiras com publicações na área quântica entre 2014 e 2023. As 20 mais produtivas são:
- Universidade de São Paulo (USP) – 122 publicações
- Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – 96
- Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – 87
- Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – 85
- Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – 73
Essas universidades públicas concentram os principais núcleos de pesquisa quântica no país, com atuação em física teórica, óptica quântica, computação quântica e materiais avançados.
Colaborações internacionais: EUA e Europa como principais parceiros
Mais da metade da produção científica brasileira na área (52,6%) foi realizada em colaboração internacional. Os países com maior número de coautorias são:
- Estados Unidos – 116 trabalhos
- Itália – 91
- Alemanha – 85
- Reino Unido – 75
- Espanha – 54
Essas parcerias são fundamentais para o acesso a infraestrutura avançada, intercâmbio de pesquisadores e participação em redes globais de pesquisa.
Patentes: impacto da ciência brasileira na inovação global
O relatório também analisou o impacto da produção científica brasileira em patentes internacionais. Entre 2014 e 2023, 115 patentes em tecnologia quântica citam 51 artigos de autores brasileiros. A maioria foi registrada nos Estados Unidos (57), seguidos por França (9), Reino Unido (8) e Canadá (7). O Brasil aparece com apenas duas patentes que citam pesquisas nacionais, o que revela um desafio na conversão de conhecimento em inovação aplicada.
Considerações finais: desafios e oportunidades
O relatório conclui que o Brasil possui núcleos sólidos de pesquisa e capacidade de inserção internacional, mas ainda enfrenta obstáculos estruturais. Entre os principais desafios estão:
- Falta de políticas públicas específicas para ciência quântica
- Baixo investimento em infraestrutura e equipamentos
- Necessidade de formação de recursos humanos especializados
- Pouca articulação entre academia e setor produtivo
Com a chegada do Ano Internacional da Ciência Quântica, o país tem a oportunidade de transformar visibilidade em ação. Isso inclui ampliar o financiamento à pesquisa, criar centros de excelência, estimular startups quânticas e integrar a ciência quântica às estratégias de soberania tecnológica.
Glossário didático
- Tecnologia quântica: Aplicações práticas da mecânica quântica, como computação quântica, sensores quânticos e criptografia quântica.
- Produção científica: Número de artigos publicados por pesquisadores em revistas científicas reconhecidas.
- Colaboração internacional: Trabalhos assinados por autores de diferentes países.
- Patente: Registro legal de uma invenção, que pode citar artigos científicos como base teórica.
O futuro da ciência quântica no Brasil
Com a liderança de instituições como USP, Unicamp e UFRJ, e parcerias internacionais consolidadas, o Brasil tem potencial para avançar na fronteira quântica. O relatório da Elsevier e da Agência Bori serve como alerta e guia estratégico para governos, universidades e empresas que desejam posicionar o país como protagonista na ciência do século XXI.