O Brasil está diante de uma oportunidade única para transformar seu sistema de previdência complementar em uma política pública de alcance verdadeiramente inclusivo. Essa foi a principal conclusão do painel “Previdência 5.0: Soluções Previdenciárias Inclusivas”, realizado durante o 46º Congresso Brasileiro de Previdência Privada (CBPP), promovido pela Abrapp.
Especialistas internacionais destacaram que o país reúne condições raras para ampliar a cobertura previdenciária, especialmente entre trabalhadores informais e de baixa renda. “O Brasil está começando a partir de um estado de maturidade, e não do zero”, afirmou Gautam Bhardwaj, cofundador da PinBox Solutions, de Singapura.
Enquanto muitos países ainda enfrentam os desafios da informalidade, do envelhecimento populacional e do desequilíbrio fiscal, o Brasil já possui ativos importantes para evitar os erros do passado. Entre eles, estão a infraestrutura digital consolidada — com destaque para o Pix e a ampla penetração de smartphones —, um ambiente regulatório robusto e instituições previdenciárias bem estruturadas.
Um dado alarmante apresentado durante o congresso reforça a urgência do tema: cerca de 40 milhões de trabalhadores brasileiros não têm acesso a benefícios previdenciários nem contam com poupança de longo prazo. Caso essa lacuna persista, estima-se que 26 milhões de idosos poderão chegar à velhice sem cobertura adequada.
O exemplo da Índia foi citado como contraponto. Em 2005, apenas 80 milhões dos 500 milhões de trabalhadores indianos tinham acesso à previdência. O país precisou construir do zero uma infraestrutura para viabilizar sua reforma. Já o Brasil, segundo os especialistas, pode acelerar esse processo com base nos recursos e experiências que já possui.
A Abrapp reforçou que a previdência complementar tem potencial para ampliar significativamente seu papel social. Para isso, é essencial apostar em soluções que combinem simplicidade digital, mobilidade entre empregos e localidades, e flexibilidade de contribuição — aspectos especialmente relevantes para quem atua em ocupações informais ou com renda variável.
O painel também apresentou um roteiro claro para o avanço da previdência inclusiva no Brasil. Entre as recomendações estão: alinhar incentivos entre governo, reguladores e entidades do setor; evitar a fragmentação de contas; priorizar escala em vez de projetos-piloto; e adotar mecanismos de engajamento como a inscrição automática, aproveitando a chamada “inércia comportamental”.
O momento, segundo os especialistas, é estratégico. O país tem a chance de evoluir de um modelo voltado majoritariamente a trabalhadores com carteira assinada ou servidores públicos para uma política previdenciária abrangente, sustentável e acessível a milhões de microempreendedores, autônomos e informais.