A manutenção da taxa Selic em um patamar elevado, confirmada recentemente pelo Comitê de Política Monetária (Copom), continua a ser o principal motor das decisões de investimento no mercado financeiro brasileiro. Dados da ANBIMA e o desempenho da BB Previdência, uma das maiores entidades de previdência complementar do país, mostram uma clara preferência dos investidores por estratégias mais conservadoras, beneficiando a renda fixa em detrimento de ativos de maior risco.
De acordo com a ANBIMA, a indústria de fundos de investimento registrou uma captação líquida positiva de R$ 16,7 bilhões em julho, impulsionada principalmente pelos fundos de renda fixa, que captaram R$ 21,2 bilhões no mês. “A decisão do Copom de manter a Selic em patamar elevado contribui para a continuidade de uma estratégia mais conservadora entre os investidores. Nesse contexto, os fundos de renda fixa devem seguir como principal motor de crescimento e estabilidade da indústria”, afirma Pedro Rudge, diretor da ANBIMA.
O destaque na renda fixa ficou com os fundos do tipo Duração Livre Crédito Livre, que registraram uma captação líquida de R$ 14,6 bilhões em julho. No entanto, na ponta oposta, os fundos de ações lideraram as retiradas líquidas, com saídas de R$ 5 bilhões, enquanto os fundos multimercado também tiveram resgates de R$ 1,1 bilhão. Essa tendência reforça a aversão ao risco em um ambiente de juros alto.
A estratégia da BB Previdência ilustra bem essa movimentação do mercado. A entidade superou sua meta de rentabilidade no primeiro semestre de 2025, atingindo um retorno consolidado de 6,68%, impulsionado principalmente pela renda fixa.
O Diretor Financeiro e de Investimentos, Ricardo Serone, explica que o desempenho se deve, em parte, à priorização de alocações em títulos do governo vinculados a índices de inflação e ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que acompanha a Selic. Serone ainda ressalta: “Além disso, há maior exposição em CDI – Certificado de Depósito Interbancário, papéis vinculados à Selic, taxa que teve curva ascendente desde 2024”.
A entidade, que obteve um retorno de 16,26% na renda variável no primeiro semestre , está inclusive ampliando a alocação em renda fixa para cerca de 90% do total de seus recursos, um aumento de 7 pontos percentuais em relação a 2024. Segundo Serone, a decisão se deve às incertezas e à volatilidade dos mercados, causadas por conflitos geopolíticos e instabilidade no cenário fiscal brasileiro, que interferem no retorno dos investimentos de curto prazo.
A postura dos investidores e dos grandes gestores como a BB Previdência demonstra que, apesar de ativos como ações terem potencial para alta rentabilidade, como os 16,26% da renda variável da BB Previdência no primeiro semestre, a segurança oferecida pela renda fixa em um ambiente de juros elevados ainda é o fator preponderante nas estratégias de alocação de capital no país.
GZM analisa: O que esse dado pode indicar?
A captação líquida positiva ou negativa da indústria de fundos de investimento, divulgada pela ANBIMA, é um termômetro do mercado financeiro e revela muito sobre o comportamento dos investidores. Segundo apurou a GZM, podemos entender esses dados como um indicador de confiança e de estratégia.
- O que é captação líquida? É a diferença entre o dinheiro que entra nos fundos (aplicações) e o que sai (resgates). Quando o valor é positivo, significa que os investidores aplicaram mais do que resgataram. Se for negativo, ocorreu o contrário: a saída de dinheiro foi maior que a entrada.
- Captação positiva em R$ 16,7 bilhões em julho de 2025: Isso indica que, no geral, os investidores brasileiros continuaram a ver os fundos de investimento como uma opção atraente para seu dinheiro, mesmo que o valor tenha sido inferior ao mês anterior (R$ 36 bilhões).
- O papel dos juros altos: O diretor da ANBIMA, Pedro Rudge, explica que a decisão do Copom de manter a taxa Selic em patamar elevado influencia diretamente a preferência dos investidores. Com juros altos, a renda fixa se torna mais atrativa, pois oferece retornos mais seguros e previsíveis.
- Renda Fixa como destaque: Em julho, a captação foi impulsionada justamente pelos fundos de renda fixa, que registraram entradas líquidas de R$ 21,2 bilhões. Isso reflete uma estratégia mais conservadora por parte dos investidores, que buscam se beneficiar do alto nível da taxa de juros.
- O outro lado da moeda: A saída de recursos de fundos de ações (R$ 5 bilhões) e multimercados (R$ 1,1 bilhão) em julho mostra que os investidores estão cautelosos com ativos de maior risco. Esse movimento é natural em cenários de incerteza econômica e juros elevados, onde a segurança da renda fixa se sobressai.
Conclusão: A captação líquida positiva, liderada pela renda fixa, mostra que o mercado de fundos está estável, mas com um perfil de risco mais baixo. Os investidores estão se adaptando ao cenário econômico, priorizando a segurança e os retornos consistentes oferecidos pelos fundos de renda fixa, que se beneficiam da política monetária atual.
