Você saberia dizer o que faz um Chief of Staff (CoS)? Se a resposta não for um “sim”, você não está sozinho. A função, que por décadas foi associada a governos e instituições públicas, está ganhando espaço — e importância — no mundo corporativo. E mais do que um articulador de agendas, o CoS moderno é um tradutor estratégico, capaz de conectar dados, pessoas e decisões críticas com precisão cirúrgica.
Segundo Carolina Laboissiere, Diretora Regional da The Chief of Staff Association (CSA) no Brasil, o papel do CoS evoluiu para se tornar essencial na execução da estratégia empresarial. “Eles são fundamentais para garantir que a comunicação entre os times e a alta liderança flua bem, e que as decisões sejam tomadas com base em contexto e dados”, afirma.
Tradicionalmente alocado junto ao CEO ou fundador, o CoS agora também atua ao lado de outros executivos C-Level, como CFOs, CTOs e CMOs, apoiando decisões em áreas cada vez mais técnicas e segmentadas. Um levantamento da CSA mostra que a demanda global por CoS especializados cresceu 28% nos últimos dois anos, impulsionada pela instabilidade econômica, pela transformação digital e pela valorização da cultura organizacional.
Em outro levantamento, a CSA identificou cinco segmentos em que os Chief of Staffs estão ganhando força:
Finanças: O CoS de Finanças atua como braço direito do CFO, traduzindo relatórios contábeis em decisões estratégicas e facilitando o diálogo entre áreas técnicas e não técnicas. Segundo a PwC, 72% das empresas buscam profissionais com essa habilidade.
Recursos Humanos: Com a pauta de pessoas no centro das estratégias, o CoS ajuda o CHRO a implementar políticas de diversidade e engajamento, além de acompanhar transformações organizacionais. Um estudo da Deloitte aponta que 64% dos CEOs priorizam cultura e engajamento.
Tecnologia: O CoS de Tecnologia apoia o CTO na priorização de projetos, gestão de riscos e conexão entre inovação e metas corporativas. Relatório da McKinsey mostra que 91% das empresas veem a tecnologia como principal motor de crescimento.
Marketing e Growth: Unindo dados, criatividade e visão de negócio, o CoS de Marketing ajuda a transformar métricas em estratégias de marca e campanhas multicanal. Segundo a Gartner, 70% das marcas aumentaram o investimento em mídia digital em 2024.
Startups e Scale-ups: Em ambientes de crescimento acelerado, o CoS atua como estabilizador, ajudando fundadores a manter foco, governança e visão de longo prazo. Pesquisa da CB Insights revela que 75% dos fundadores enfrentam dificuldades nesse equilíbrio.
E para saber mais detalhes dessa nova função que está ganhando destaque no mundo corporativo, a GZM conversou com Carolina Laboissiere, Diretora Regional da The Chief of Staff Association (CSA) no Brasil. Confira:
GZM: Como você definiria, em uma frase, o papel de um Chief of Staff moderno dentro das empresas?
Carolina: Um Chief of Staff moderno pode ser definido como um verdadeiro catalisador e conector estratégico dentro das organizações. Seu papel vai muito além do apoio administrativo, ele atua articulando o alinhamento entre líderes, projetos e partes interessadas, garantindo que a execução aconteça de forma eficaz e em sintonia com os objetivos maiores da empresa.
Além disso, funciona como um escudo que permite ao CEO e demais executivos focarem na direção estratégica, enquanto se assegura de que as iniciativas essenciais avancem sem ruídos. Em essência, o CoS conecta e impulsiona sinergias organizacionais, eliminando barreiras, promovendo clareza de prioridades e maximizando o impacto e a influência da alta liderança.
GZM: Quais habilidades são mais valorizadas hoje em um CoS especializado, além da capacidade de organização?
Carolina: Entre as habilidades mais valorizadas hoje em um Chief of Staff, além da capacidade de organização, destacam-se a gestão de programas, que vai além do simples gerenciamento de projetos e traz uma visão ampla capaz de integrar múltiplas iniciativas e riscos para garantir consistência estratégica.
O pensamento sistêmico aliado a uma comunicação eficaz, essencial para decompor problemas complexos em etapas gerenciáveis e manter o alinhamento entre diferentes stakeholders. Também ganham relevância a capacidade de inovação, a discrição e a atuação transversal, já que o CoS frequentemente lida com iniciativas inovadoras e sensíveis, articulando diferentes áreas e funcionando como um verdadeiro generalista estratégico.
Por fim, a função exige visão ampla e responsabilidade de alinhamento, um “privilégio e uma responsabilidade” únicos do cargo, pois cabe ao Chief of Staff utilizar sua posição para alinhar estrategicamente toda a organização.
Além desses atributos técnicos, a CSA enfatiza a importância das competências comportamentais, que são decisivas para o sucesso do cargo. Flexibilidade e adaptabilidade permitem ao CoS moldar sua atuação de acordo com as necessidades da organização e do líder.
O relacionamento interpessoal e a capacidade de construir uma rede interna sólida são igualmente fundamentais, já que cultivar vínculos com a liderança, o conselho e diferentes stakeholders garante uma leitura precisa da cultura organizacional. Soma-se a isso a habilidade de lidar com múltiplas demandas sem perder o foco em resultados, administrando projetos especiais e entregas críticas de forma eficaz.
Outro diferencial é a capacidade de transitar entre o pensamento estratégico e o operacional, atuando como uma ponte que conecta visão de longo prazo com execução no dia a dia. A comunicação clara e a habilidade de influência completam esse conjunto, permitindo que o CoS ouça ativamente, articule ideias de maneira precisa e inspire confiança em todos os níveis da organização.
A CSA ainda identifica seis modalidades que ajudam a compreender as diferentes facetas desse papel multifuncional. O Chief of Staff pode atuar como um verdadeiro arquiteto de estratégia, oferecendo aconselhamento e planejamento de alto nível; como facilitador de redes internas, fortalecendo conexões entre diferentes áreas; ou ainda como gestor operacional, com foco em eficiência.
Há também o perfil orientado ao alinhamento, que conecta silos para garantir consistência estratégica; o direcionado a resultados, que prioriza a entrega de projetos críticos; e o comunicador central, cuja força está na escuta ativa e na capacidade de exercer influência dentro da organização.
Essa diversidade de modalidades mostra como a função é adaptável e capaz de se moldar conforme o contexto empresarial e as demandas específicas da liderança.
GZM: A função de CoS pode ser uma porta de entrada para cargos executivos? Há exemplos disso no Brasil?
Carolina: No cenário global, a The Chief of Staff Association (CSA) destaca o potencial de formação, desenvolvimento e visibilidade que o papel de Chief of Staff oferece, funcionando como uma verdadeira ponte estratégica para posições executivas.
Por estar diretamente envolvido com áreas críticas e com a execução de iniciativas de alto impacto, o CoS tem acesso a experiências e aprendizados que o colocam em uma posição privilegiada para assumir cargos de liderança. Essa preparação é fortalecida pelas conexões globais e pelo repertório adquiridos em programas de educação executiva promovidos pela CSA.
Globalmente, o cargo é amplamente reconhecido como um trampolim natural para funções executivas, justamente pela proximidade com a estratégia e pela exposição a diferentes áreas do negócio. No Brasil, já é possível observar esse movimento: muitos Chiefs of Staff migram para posições como Diretoria de Operações (COO), Diretor de Estratégia ou Chief Transformation Officer, consolidando o papel como um importante propulsor de trajetórias de liderança.
É importante reforçar, no entanto, que não existe um caminho de carreira único ou padronizado para quem ocupa essa função. Muitos profissionais chegam ao cargo por meio de promoções internas, enquanto outros são recrutados externamente, de acordo com as necessidades específicas do líder e da organização.
Além disso, embora seja comum que o CoS seja visto como uma etapa transitória rumo a posições de maior visibilidade, vale ressaltar que cada vez mais profissionais têm escolhido permanecer nesse papel como uma carreira de longo prazo, dada sua relevância estratégica.
GZM: Como a CSA tem apoiado a formação e o desenvolvimento desses profissionais no país?
Carolina: A Chief of Staff Association (CSA) tem apoiado a formação e o desenvolvimento desses profissionais no mundo e agora no Brasil por meio de uma combinação de educação executiva, rede de relacionamento e produção de conhecimento.
No campo educacional, a associação oferece programas de educação online, com palestras e conteúdos em parceria com profissionais de destaque, além de trilhas executivas de alto nível em instituições de referência, como Harvard Business School e Oxford – Saïd Business School, que garantem certificações formais e estimulam o desenvolvimento contínuo do Chief of Staff contemporâneo. Ambos os formatos e programas proporcionam não apenas conhecimento técnico, mas também a imersão em práticas e metodologias que elevam a atuação estratégica dos profissionais.
Outro pilar fundamental é a rede global construída pela CSA, a maior do mundo para esta profissão, que conecta Chiefs of Staff de corporações, startups, governos, ONGs e institutos de 75 diferentes países. Essa comunidade favorece a troca de experiências, o acesso a pares em contextos diversos e a construção de vínculos que ampliam a visão de mercado.
No Brasil, essa atuação já se concretiza com iniciativas como a recepção inaugural realizada em São Paulo, em março de 2025, que reuniu profissionais e abriu espaço para conexões regionais. Na América Latina, há membros da CSA na Argentina, Peru e Colombia, com alto potencial de crescimento nos próximos anos.
Além disso, a CSA exerce um papel relevante de advocacy e disseminação de conhecimento, garantindo aos seus membros acesso a pesquisas de ponta, conteúdos de liderança de pensamento e publicações especializadas, como o CSA Journal, os CSA Reports e o podcast institucional.
Todas essas ferramentas estão disponíveis globalmente e são 100% acessíveis também aos profissionais brasileiros e latino-americanos que integram a rede, reforçando o compromisso da associação em consolidar a função de Chief of Staff como peça-chave na alta liderança das organizações.
GZM: Que tipo de empresa ainda não tem um CoS, mas deveria considerar essa contratação com urgência?
Carolina: O Chief of Staff pode ser especialmente valioso em empresas que atuam em ambientes altamente complexos, voláteis ou em transformação. Nessas organizações, em que múltiplos projetos se interligam e há iniciativas inovadoras ou sensíveis em andamento, a necessidade de integração estratégica se torna ainda mais evidente, é o caso de organizações do terceiro setor, instituições educacionais, institutos de pesquisa ou organizações que contam com estrutura societária diversa (nacional ou estrangeira).
Outro contexto em que a presença desse profissional faz grande diferença é em empresas em processo de expansão acelerada ou enfrentando crises. Nessas situações, o alinhamento e a gestão estratégica eficaz são fundamentais, e a figura do CoS funciona como um ponto central de coordenação, algo especialmente necessário em startups e scale-ups ou mesmo empresas familiares em crescimento, através de family offices.
Por fim, estruturas que sofrem com fortes silos organizacionais também se beneficiam da atuação do Chief of Staff. A ausência de integração entre equipes e de clareza na execução estratégica costuma comprometer resultados, e o CoS pode exercer o papel de ponto de convergência, conectando áreas e harmonizando a execução.
Em resumo, qualquer organização que deseje fortalecer sua governança, ampliar a agilidade e desenvolver uma visão integrada deveria considerar com seriedade a contratação desse profissional.
