Imagine um tipo de startup que não nasce de uma ideia de aplicativo, mas sim de anos de pesquisa em laboratório, testes complexos e conhecimento científico profundo. Essas são as deeptechs — empresas que desenvolvem tecnologias de base científica com potencial de transformar setores inteiros. E o Brasil, apesar dos desafios, está construindo um ecossistema promissor nesse campo.
O relatório “Deep Tech Radar 2025 — BRASIL”, produzido pela consultoria Emerge com apoio de instituições como FAPESP, FINEP, SEBRAE e CUBO Itaú, mapeou 952 deeptechs no país. A análise faz parte de um estudo mais amplo sobre a América Latina e revela um retrato detalhado e surpreendente da inovação nacional.
O que é uma deeptech, afinal?
Segundo o estudo, uma deeptech se caracteriza por cinco pilares:
- Base científica-tecnológica: soluções com risco técnico real e fundamentadas em ciência testável.
- Ciclo longo de desenvolvimento: exigem anos de pesquisa, prototipagem e testes.
- Aplicação em setores críticos: como saúde, agro, indústria e energia.
- Barreiras técnicas e diferenciação: patentes, algoritmos próprios, dados exclusivos.
- Transformação sistêmica: capacidade de mudar radicalmente um setor ou resolver grandes desafios sociais e ambientais.
Onde estão e quem são essas startups?
A maioria das deeptechs está no Sudeste (64%), com destaque para São Paulo, que abriga 467 delas. O Sul vem em seguida com 20%. E aqui vai um dado curioso: 55% são spin-offs acadêmicas — ou seja, nasceram dentro de universidades. A USP, por exemplo, responde por 20,7% dessas iniciativas.
Setores e tecnologias que lideram
As deeptechs brasileiras se concentram em quatro grandes áreas:
| Setor | % de startups | Tecnologias dominantes |
| Saúde e Bem-estar | 36% | Biotecnologia, IA e Computação |
| Agronegócio e Alimentos | 27% | Biotecnologia, IA e Computação |
| Indústria e Manufatura | 19% | Materiais Avançados, IA |
| Energia e Clima | 7% | Hidrogênio verde, IA, Biotecnologia |
A biotecnologia lidera com 433 startups, seguida por inteligência artificial e computação (216) e materiais avançados (176).
Investimento: ainda um gargalo
Apesar do potencial, o financiamento ainda é um desafio:
- 47% das deeptechs nunca receberam investimento.
- Apenas 10% combinam capital público e privado.
- 30% receberam menos de R$ 200 mil.
- O capital privado se concentra em investimento anjo (7,56%) e recursos próprios (5,78%).
- FAPESP, FINEP e SEBRAE respondem por 51% do financiamento público.
Casos que inspiram
Alguns exemplos mostram como essas startups estão inovando:
- 🧬 Nintx (Saúde): terapias multi-alvo baseadas na biodiversidade brasileira.
- 🌾 Recombine (Agro): biodefensivos e vacinas com tecnologia recombinante.
- 🏭 Kasco (Indústria): IA e visão computacional para inspeção industrial.
- ⚡ BGEnergy (Energia): soluções para produção de hidrogênio verde.
- 🚚 Aeroriver (Mobilidade): veículo de efeito solo para a Amazônia.
Como acelerar esse ecossistema?
O relatório propõe seis caminhos estratégicos:
- Atrair talentos científicos, inclusive internacionais.
- Formar empreendedores na academia, com programas perenes.
- Criar fundos escaláveis, que atraiam capital privado.
- Promover o Brasil globalmente, com roadshows e co-investimentos.
- Focar em setores estratégicos, como bioeconomia, agro e saúde.
- Usar compras públicas como alavanca, garantindo demanda inicial.
Brasil tem vocação para a ciência aplicada
O estudo mostra que o país tem uma base sólida — universidades fortes, vocações setoriais e talentos científicos. Mas para que as deeptechs brasileiras ganhem escala e relevância global, é preciso mais investimento, políticas públicas consistentes e uma ponte mais firme entre ciência e mercado.
A boa notícia? O caminho está mapeado. E o Brasil, com sua biodiversidade, capacidade técnica e criatividade, pode ser protagonista na próxima revolução tecnológica.
Seja você pesquisador, investidor ou empreendedor, vale acompanhar esse movimento. As deeptechs não são apenas o futuro — elas já estão moldando o presente.
Confira abaixo o report que a GZM preparou sobre o tema, clique na imagem da capa para acessar o arquivo, você poderá baixá-lo, se quiser.
E caso queira acessar o estudo completo, ele está disponível no link: https://emergebrasil.in/inscricao-panorama-deep-techs-2025/
