Ao pensar em grandes conferências como a COP30, que será sediada neste ano em Belém (PA), o foco se volta para os desafios da sustentabilidade e as grandes transformações sociais em nosso país e no mundo. Embora a sociedade se concentre nos aspectos ambientais e corporativos, a eficácia real das soluções climáticas e a construção de um futuro sustentável dependem de um elemento que deve estar no centro das discussões: o envolvimento genuíno das empresas, dos representantes políticos e das comunidades. É preciso reconhecer que os desafios do clima só serão superados se tiverem a dimensão humana plenamente integrada.
Os temas centrais do evento, como a redução de emissões, preservação ambiental e, principalmente, a justiça climática, exigem que as organizações olhem para além da lente ambiental do ESG (Environmental, Social and Governance). E é nesse contexto que a “transição justa” surge como um conceito importante e central para a COP30, justamente por reconhecer que as crises climáticas impactam a população em diversas camadas e precisam de ações equitativas.
A “transição justa” no centro das discussões
Em termos simples, a “transição justa” refere-se à estratégia de mudanças com relação às crises climáticas, visando minimizar o impacto e as desigualdades que um desastre climático causa. Isso significa criar oportunidades de trabalho decentes para todos, evitar riscos como o desemprego e o deslocamento de pessoas e adotar uma abordagem inclusiva para lidar com os desafios associados à transição para uma economia de baixo carbono. É crucial que essa abordagem olhe para as pessoas e suas vulnerabilidades.
Para que a “transição justa” seja efetiva, a empresa tem a responsabilidade de mapear e agir nos quatro pilares do social (o “S” do ESG): o público interno (colaboradores), a cadeia de valor (fornecedores e parceiros), o entorno (comunidade local onde a empresa está inserida) e a sociedade como um todo.
Para se aproximar e estabelecer uma relação verdadeira com esses diferentes grupos, a comunicação é o ponto de partida. É fundamental democratizar a linguagem para que a COP30 alcance realmente impactos interseccionais e possa impulsionar as pessoas, em seus diversos contextos, junto das prioridades ESG no Brasil e no mundo.
Com essa visão, a “transição justa” deve se apoiar em ações concretas. No âmbito empresarial, isso pode incluir a proteção social, com a implementação de redes de segurança social para trabalhadores e comunidades afetadas. Exige também inclusão e equidade, com foco na eliminação de desigualdades existentes e na promoção da igualdade de oportunidades para todos os grupos, com uma perspectiva de direitos humanos. Já no âmbito do poder público, é essencial o diálogo social, promovendo uma colaboração entre governos, empresas e organizações da sociedade civil. O fomento à criação de novas oportunidades em modelos econômicos sustentáveis, como energias renováveis, e o apoio a ações territoriais para garantir o desenvolvimento econômico e social nas regiões mais afetadas, são igualmente vitais.
“Transição justa” como alavanca estratégica
No âmbito corporativo, a “transição justa” se manifesta através do cuidado com a saúde e o bem-estar dos colaboradores e pela promoção ativa da diversidade, equidade, inclusão e pertencimento, abordando questões de gênero, raça e desigualdades. Essa abordagem socialmente responsável é uma defesa essencial contra os riscos da crise climática, que afeta com mais incidência grupos sub representados.
Aqui, evidencio alguns dados globais que demonstram como as desigualdades são agravadas por eventos climáticos: a ONU aponta que mulheres e meninas, por exemplo, representam cerca de 80% das pessoas forçadas a migrar por desastres e mudanças climáticas. Esse número mostra que a “transição justa” não é apenas sobre o mercado de trabalho, mas sobre a proteção social e a minimização de vulnerabilidades que impactam diretamente a resiliência de toda a sociedade e, consequentemente, das cadeias de valor.
Mapeamento de vulnerabilidades e dados demográficos
O principal obstáculo para a melhoria do ambiente interno e o entendimento da “transição justa” reside na dificuldade de mensuração. Enquanto o pilar ambiental possui métricas claras, os levantamentos sobre cultura e bem-estar são frequentemente negligenciados.
Para superar esse desafio, ferramentas de diagnóstico e métricas (como as utilizadas pela PlurieBR) se tornam essenciais. Elas medem o impacto de pessoas e clima com insights em tempo real, permitindo que os líderes identifiquem rapidamente problemas e oportunidades, promovendo um ambiente de trabalho mais sustentável, equânime e produtivo.
É fundamental que o mapeamento das vulnerabilidades e do bem-estar organizacional vá além das questões culturais e inclua também dados demográficos, socioeconômicos e de logística. Elementos como o meio de transporte utilizado pelos colaboradores, o tempo de deslocamento até o trabalho e a localização de suas moradias devem ser mapeados para identificar de forma mais precisa e equitativa os riscos e vulnerabilidades sociais.
Para prosperar no novo ciclo climático que se inicia com a COP30, as organizações precisam listar os riscos e as oportunidades sociais em seus negócios, utilizando a “transição justa” como uma alavanca de inovação. Quem alinhar as metas ambientais com a justiça social interna, aplicando a cultura como motor de transformação, garantirá oportunidades de crescimento empresarial e de transformação social para um futuro melhor e com mais igualdade.