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Da sucessão ao rating: como a governança define o preço do crédito no Brasil

Por Floriano Bueno, Diretor Regional da GoNext

Não incomum, governança é vista por empresários como um tema sofisticado, quase teórico, distante da realidade de quem lida diariamente com margens apertadas, custos elevados e lucros em queda. No entanto, esse olhar equivocado custa caro. Literalmente. Governança não é moda corporativa: ela é determinante para o acesso ao crédito e para o custo do capital que sustenta a continuidade dos negócios.

No caso das empresas familiares, essa relevância se amplia. A estruturação de processos, conselhos e sucessão transmite ao mercado e aos bancos a percepção de profissionalização. Em outras palavras, não se trata apenas de uma família proprietária, mas de uma organização que atua de forma técnica, com papéis bem definidos, gestão transparente e planejamento de longo prazo. Essa combinação gera resultados consistentes e reduz riscos de ruptura — atributos fundamentais para qualquer instituição que empresta recursos ou investe capital.

A avaliação de crédito no Brasil é cada vez mais criteriosa. Os bancos operam com metodologias que combinam dimensões quantitativas e qualitativas. Nos números, aparecem balanços, DF’s , projeções, indicadores financeiros. Mas o peso da governança é crescente no lado qualitativo, entre outros parâmetros: perfil dos controladores, clareza societária, estrutura decisória e gestão, sobretudo, o processo sucessório. Empresas com sucessão indefinida transmitem insegurança. Já aquelas que apresentam organogramas claros, conselhos ativos e protocolos familiares dão conforto ao credor.

Essa diferença se traduz diretamente em custos. Uma empresa classificada como rating A pode acessar crédito com spreads médios de 3% (usando dimensões aleatórias), por exemplo. Já uma com rating C, mesmo com balanços positivos, paga 5% ou mais, no mesmo exemplo. O motivo está nas regras do Banco Central: para cada Real emprestado, os bancos precisam provisionar de acordo com o risco atribuído. Clientes de rating A não exigem provisão, liberando capital e reduzindo o custo da operação. Nos ratings inferiores, há exigência de reservas, o que se reflete em juros mais altos.

O efeito não se limita ao crédito bancário. No mercado de capitais, fundos e investidores institucionais possuem regulamentos que restringem aplicações a empresas com rating de maior risco. Isso significa que, sem governança e sucessão estruturadas, muitas companhias sequer entram no radar de potenciais financiadores. Conhecer o próprio rating e trabalhar a governança, portanto, não é detalhe administrativo neste mercado: é estratégia financeira.

Governança, na prática, é clareza sobre o papel de fundadores, executivos e sucessores. É a criação de fóruns de decisão, conselhos e protocolos que assegurem continuidade, independentemente da figura do patriarca ou matriarca. O banco não se satisfaz com a resposta vaga de que “o filho será sucessor porque estudou administração”. Ele quer ver evidências de processos, critérios claros e capacidade de execução.

O desafio das empresas familiares é romper a percepção de que governança é burocracia. Na verdade, ela é um ativo invisível que impacta o spread bancário, o apetite de investidores e até o índice de Basileia das instituições financeiras na utilização de seu capital. Ignorá-la significa limitar crescimento, encarecer o crédito e expor o negócio a riscos de continuidade.

Portanto, o empresário que deseja garantir perenidade e competitividade deve olhar para a governança como um investimento. Um conselho ativo, protocolos sucessórios bem definidos e práticas de gestão estruturadas não apenas aumentam a confiança do mercado, como reduzem o custo de financiamento. É a diferença entre estar preparado para crescer ou ficar refém de capital caro e restrito.

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