A cúpula internacional realizada em Kuala Lumpur, que poderia ser chamada de Trump Summit 2025, pode ter marcado o início de uma nova fase nas relações diplomáticas globais. Após muitos momentos de tensões, sanções e ameaças unilaterais, os Estados Unidos voltaram a demonstrar interesse em construir pontes — e não apenas muros — com países estratégicos como China e Brasil. A mudança de tom, embora tardia, pode ser um sinal de que Washington começa a reconhecer os limites de sua política de confrontação.
O encontro entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva foi emblemático. Após meses de atrito comercial, com tarifas de até 50% impostas pelos EUA a produtos brasileiros, os líderes se reuniram por quase uma hora e sinalizaram disposição para negociar. “Acho que podemos fazer bons acordos para ambos os países”, declarou Trump. Lula, por sua vez, apresentou dados contundentes: o superávit comercial dos EUA com o Brasil ultrapassa US$ 410 bilhões nos últimos 15 anos. A suspensão temporária do tarifaço foi vista por especialistas como um gesto político relevante.
No mesmo evento, os EUA parecem também estar avançando nas negociações com a China, seu maior rival econômico. O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, anunciou que os dois países estruturaram um acordo comercial preliminar, após cinco rodadas de negociações desde maio. O encontro entre Trump e Xi Jinping, previsto para ocorrer na Coreia do Sul, promete selar um pacto que pode redefinir os rumos da economia global.
Essas movimentações parecem indicar que os EUA começam a perceber o risco de isolamento diplomático. A estratégia de “guerra contra todos” — marcada por sanções, chantagens e retaliações — mostrou-se insustentável diante da resiliência das grandes potências. China e Brasil, cada um à sua maneira, demonstraram capacidade de resistir às pressões e buscar alternativas multilaterais. A nova postura americana parece ser menos fruto de convicção e mais de necessidade.
Ainda assim, é cedo para celebrar. A diplomacia exige consistência, e não apenas gestos pontuais. A retomada do diálogo é um passo importante, mas não garante estabilidade. A comunidade internacional precisa acompanhar de perto os desdobramentos desses acordos e cobrar que eles se traduzam em ações concretas para a segurança global, o equilíbrio econômico e o respeito mútuo entre as nações.
Por ora, podemos reconhecer que um caminho foi aberto. Se será trilhado com sabedoria e compromisso, o tempo dirá. Mas diante de um cenário marcado por polarizações e riscos geopolíticos, qualquer sinal de sensatez merece atenção — e esperança.