O Federal Reserve confirmou as expectativas do mercado e reduziu a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, levando-a para o intervalo entre 4,00% e 4,25% ao ano. A decisão, embora esperada, ocorre em meio à crescente pressão do presidente Donald Trump por uma política monetária mais expansionista e aos recentes atritos com a presidência do Fed sobre os rumos da economia.
Projeções surpreendem e indicam cortes adicionais
Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o destaque ficou por conta das projeções atualizadas. “O cenário agora indica dois cortes adicionais ainda em 2025, encerrando o ano na faixa entre 3,75% e 4%, o que representa uma revisão em relação a junho, quando eram projetados apenas dois cortes até o fim de 2025”, afirma.
Para 2026, houve um ajuste marginal, com um corte extra previsto, e em 2027 a taxa pode cair para 3%, segundo as novas estimativas. O comunicado oficial trouxe poucas mudanças, apenas ajustes de linguagem para justificar os próximos passos, sempre com a ressalva de que tudo dependerá dos indicadores econômicos.
Influência política e votos divergentes
Um ponto relevante foi o voto do novo indicado por Trump, que defendeu um corte mais agressivo, de 0,50 ponto percentual. Para Cruz, isso reforça a expectativa de que futuros indicados pelo presidente possam pressionar por uma redução mais acelerada dos juros.
Criptoativos ganham tração com ambiente mais favorável
A decisão do Fed também reverberou no mercado de criptoativos. Sarah Uska, analista do Bitybank, destaca que a redução nos juros tende a aumentar o apetite por investimentos considerados de risco, como as criptomoedas. “Os ETFs de criptoativos já refletem esse movimento, registrando fluxos positivos nas últimas semanas, o que reforça a presença do setor nas carteiras de parte dos investidores institucionais”, explica.
Apesar da volatilidade característica do segmento, o corte de juros cria um ambiente mais propício para a expansão dos ativos digitais. “O investidor deve acompanhar de perto os próximos passos da economia norte-americana e os efeitos da decisão do Fed, que já vinham sendo precificados pelo mercado. A forma como esses desdobramentos se consolidarem será determinante para definir as tendências futuras nos ativos digitais”, alerta Uska.
Crescimento, desemprego e inflação: ajustes pontuais
Nas projeções macroeconômicas, o Fed revisou o crescimento do PIB para cima: de 1,4% para 1,6% em 2025 e de 1,6% para 1,8% em 2026. A taxa de desemprego, que permanece em 4,5% este ano, foi ajustada para 4,4% em 2026. Cruz observa que, embora o mercado de trabalho esteja desacelerando na criação de vagas, a taxa de desemprego dificilmente deve disparar, em parte pela redução no número de imigrantes nos EUA.
Já na inflação, a projeção para 2026 foi elevada de 2,4% para 2,6%, enquanto a estimativa para este ano se manteve em 3%. “O corte veio em um contexto de indicadores mais pressionados, especialmente em relação à inflação. Isso torna o ambiente mais desconfortável, já que o discurso do Fed se ancora na ideia de que os efeitos das tarifas são temporários”, avalia Cruz.
Cautela à frente: cortes futuros ainda incertos
Embora o corte atual sinalize uma flexibilização, os próximos passos do Fed permanecem condicionados à evolução dos dados. “Não se pode descartar até mesmo a necessidade de alta no ano que vem”, conclui Cruz.
A decisão do Fed, portanto, não apenas redefine o horizonte da política monetária americana, como também reacende o interesse por ativos alternativos — com destaque para os criptoativos, que voltam ao radar dos investidores em busca de oportunidades em um cenário de juros mais baixos.