A tentativa de empresas chinesas de e-commerce de se consolidarem como concorrentes globais da Amazon tem enfrentado desafios significativos. A Shein, gigante da moda rápida, e a Temu, plataforma de varejo digital da PDD Holdings, vêm intensificando esforços para ampliar sua presença internacional, mas esbarram em entraves regulatórios, pressões políticas e resistência de mercados estratégicos — como o Reino Unido.
Fracasso no Reino Unido e suspensão de IPO: A Shein, que chegou a ser avaliada em US$ 100 bilhões em 2022, viu seu lucro despencar 40% em 2024, levantando dúvidas sobre sua sustentabilidade financeira e adiando sua oferta pública inicial (IPO) na Bolsa de Londres. A empresa enfrentou críticas de parlamentares britânicos sobre condições de trabalho e evasão fiscal, o que levou ao encerramento de contratos com agências de lobby e comunicação no país.
A Temu, por sua vez, também encontrou dificuldades para estabelecer operações robustas no Reino Unido, onde consumidores exigentes e regulamentações rígidas desafiam modelos de negócios baseados em remessas diretas da China e preços ultracompetitivos.
Barreiras geopolíticas e comerciais: A crescente tensão entre Estados Unidos e China também impacta diretamente essas plataformas. A proposta do presidente Donald Trump de impor tarifas de até 145% sobre produtos chineses e a revisão do regime “de minimis” — que isenta de impostos remessas de até US$ 800 — afetam o modelo logístico da Shein, baseado em envios rápidos e baratos.
Essas medidas, somadas à pressão por maior transparência e responsabilidade social, têm levado empresas chinesas a repensar suas estratégias de expansão. A Shein, por exemplo, tem intensificado sua presença no Brasil e em outros mercados emergentes, descentralizando sua produção e firmando parcerias com fornecedores locais.
Modelo de negócios sob escrutínio: O sucesso dessas plataformas está enraizado em estratégias como marketing digital agressivo, uso intensivo de inteligência artificial para prever tendências e logística eficiente. No entanto, o crescimento acelerado também levanta questões sobre sustentabilidade, direitos trabalhistas e impacto ambiental.
A tentativa de globalização da Shein e da Temu mostra que, embora o modelo chinês de e-commerce seja competitivo, ele precisa se adaptar às exigências locais e superar barreiras institucionais para se consolidar fora da Ásia.
O que está em jogo
- A disputa por espaço com gigantes como Amazon e Zalando
- A necessidade de adequação a normas trabalhistas e fiscais
- A pressão por práticas ESG e responsabilidade social
- A reconfiguração das cadeias de suprimentos para mitigar riscos geopolíticos
A batalha pela globalização do e-commerce chinês está longe de terminar. Mas os recentes reveses no Reino Unido mostram que, para competir em mercados maduros, não basta oferecer preços baixos — é preciso construir confiança, adaptar modelos e respeitar as regras do jogo.