O governo federal está finalizando um plano de contingência para socorrer os setores da economia brasileira impactados pelo “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse que o pacote de medidas deve ser anunciado nesta quarta (13), após a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo Alckmin, a estratégia principal é usar uma “régua” para avaliar a exposição de cada setor às exportações para os EUA e, assim, direcionar o apoio de forma mais precisa.
A intenção é diferenciar entre setores que destinam mais de 90% de sua produção ao mercado interno daqueles que exportam mais da metade, e até mesmo produtos dentro de um mesmo setor.
No caso de pescados, ele citou a tilápia, cujo consumo é majoritariamente interno, em contraste com o atum, que tem a maior parte da produção voltada para exportação.
Estratégias e alertas fiscais
Para entender melhor o cenário relativo às medidas, a GZM ouviu a advogada Cristina Câmara, sócia da área tributária do Siqueira Castro Advogados. Ela afirma que “após quase um mês de divulgação do tarifaço do Trump, o governo brasileiro deve divulgar pacote combinando ações legais com a possível reafirmação da soberania via reciprocidade, pacotes de apoio emergencial e esforços de diversificação comercial.”
Ela lembra que o adiamento de tributos, por si só, pode não ser suficiente e, a longo prazo, pode gerar endividamento fiscal para as empresas. Ela ainda defende que a desoneração tributária, como na folha de pagamento, seria o ideal para dar fôlego aos setores enquanto se buscam novos acordos comerciais com parceiros como o Mercosul-União Europeia e mercados asiáticos.
Na tentativa de ouvir os impactos e discutir as medidas, Alckmin se reuniu com a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e destacou a preocupação com o setor, que emprega muita mão de obra, e com o couro, matéria-prima para os calçados, que tem mais de 40% de sua produção destinada à exportação.
O vice-presidente também manteve um encontro com o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, mas não revelou detalhes da conversa, apenas a classificou como “muito boa”.
As respostas ao redor do mundo
Com a recente escalada de tensões comerciais provocadas pelo “tarifaço” do governo dos Estados Unidos, diversos países ao redor do mundo têm adotado ou avaliado contramedidas para defender suas economias. A imposição de tarifas pelo governo de Donald Trump, que em alguns casos chegaram a 50%, gerou um ambiente de incerteza global, com reações variadas.
União Europeia
A União Europeia (UE), um dos principais alvos das tarifas americanas, reagiu inicialmente com cautela, mas sem descartar a retaliação. Em abril de 2025, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou a suspensão temporária de contramedidas, afirmando que o bloco queria dar uma chance às negociações.
No entanto, ela alertou que se as negociações não fossem satisfatórias, as contramedidas seriam retomadas. O bloco, que é o maior parceiro comercial dos EUA, planejava possíveis retaliações que incluíam restrições ao acesso ao seu mercado para bens e serviços. Em agosto, a UE suspendeu por seis meses seus dois pacotes de contramedidas após um acordo com o presidente americano.
China
A competição com a China é um tema prioritário para o governo Trump. Em abril de 2025, os EUA impuseram uma sobretaxa adicional de 50% sobre produtos chineses, elevando o percentual total para 104% após a retaliação de Pequim. A China, por sua vez, prometeu “lutar até o fim” e tomar contramedidas para proteger seus interesses. O presidente Trump, no entanto, prorrogou por 90 dias uma trégua tarifária com a China em agosto de 2025.
Canadá
O Canadá também foi impactado, com o governo americano impondo tarifas adicionais. Em resposta, as autoridades canadenses anunciaram que combateriam as tarifas com contramedidas, em um esforço para proteger a economia do país. O governo canadense expressou preocupação com as tarifas adicionais sobre produtos farmacêuticos, madeira e semicondutores, que afetariam milhões de cidadãos.
Japão e Reino Unido
Outros parceiros históricos dos EUA, como Japão e Reino Unido, conseguiram fechar acordos com o governo americano para mitigar os efeitos das tarifas. O Japão chegou a um acordo que reduziu as tarifas de importação americanas para os setores automotivo e aeroespacial. O Reino Unido também fechou um acerto para que até 100 mil carros britânicos pudessem ingressar nos EUA com uma alíquota reduzida de 10%.