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Indústrias chinesas avançam no Brasil e redesenham mapa geoeconômico nacional

Unidade da XCMG em Guarulhos. Bandeiras hasteadas mostram novas tonalidades para a economia do Brasil
De aplicativos à tratores, empresas asiáticas desembarcam no país com anúncios de fábricas, centros de distribuição e unidades de pesquisa

A presença chinesa no Brasil está ganhando novos contornos. Já considerada uma frente de peso em termos de presença, o que antes era protagonizado por aplicativos, plataformas digitais e comércio eletrônico, agora passa a dividir presença com indústrias pesadas e tecnológicas no espaço estratégico da economia nacional. Um desses exemplos é a gigante XCMG Machinery (Xuzhou Construction Machinery Group), terceira maior fabricante de máquinas de construção do mundo. 

A empresa já estava no Brasil e anunciou esta semana novas ações para fortalecer sua presença, se tornando um dos principais símbolos dessa transformação geo-econômica em curso no Brasil. 

Desde 2014, a XCMG mantém uma fábrica em Pouso Alegre (MG), fruto de um investimento de US$ 300 milhões. Em dez anos, mais de 23 mil equipamentos foram produzidos localmente. 

Na última semana, em um evento na capital paulista que contou com a presença dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e de Mato Grosso, Mauro Mendes, a empresa anunciou a criação de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil, voltado à adaptação tecnológica de suas máquinas às demandas latino-americanas. O presidente global da XCMG, Yang Dongsheng, afirmou no evento que a empresa já é “brasileira”, com 50% de conteúdo nacional em seus equipamentos — meta que deve ultrapassar 55% em 2026.

Uma das ações que estão ajudando a expansão da empresa no país é a parceria com a Extra Máquinas, distribuidora sediada no Mato Grosso, iniciada em 2020. A aliança comercial impulsionou a marca no país e ajudou a empresa a sair de um faturamento de R$ 6 milhões para R$ 450 milhões em 2024, com projeção de R$ 1,5 bilhão até 2030. Para reforçar a estratégia, a Extra também anunciou, numa coletiva de imprensa, R$ 50 milhões em novas lojas, além de já manter o maior centro de distribuição de peças XCMG do Brasil.

Outras indústrias chinesas no Brasil

A expansão industrial chinesa no Brasil não se limita à XCMG. Este ano, a montadora de carros BYD inaugurou uma mega fábrica em Camaçari (BA), no antigo complexo da Ford, com investimento de R$ 5,5 bilhões e expectativa de gerar 20 mil empregos. A GWM, também do setor automobilístico, já havia anunciado a produção local de veículos híbridos e elétricos, enquanto a Envision Energy, do setor de energia, está investindo em parques eólicos e centros de inovação em energia renovável.

Empresas como Meituan e Mixue, conhecidas por delivery e alimentos, também estão construindo centros logísticos e de distribuição, ampliando sua atuação para além do digital.

Segundo dados do Fórum Empresarial Brasil-China realizado em Pequim em maio de 2025, os investimentos chineses anunciados para o Brasil somam R$ 27 bilhões, com foco em energia, infraestrutura, mobilidade e indústria verde. A tendência é de crescimento contínuo, com apoio institucional e acordos bilaterais que facilitam a entrada de capital produtivo.

Movimento inverso: Brasil na China

Apesar das relações comerciais binacionais se fortalecerem a cada dia, o fluxo de investimentos brasileiros na China ainda é tímido. Estima-se que menos de 30 empresas brasileiras tenham operações diretas no país asiático, com foco em alimentos, mineração, cosméticos e tecnologia. O volume de investimentos é inferior a US$ 1 bilhão, segundo estimativas da ApexBrasil, refletindo barreiras regulatórias, culturais e logísticas.

Os principais casos de investimento brasileiro na China até o momento são:

  • BRF (Brasil Foods): a multinacional brasileira do setor alimentício mantém operações comerciais e centros de distribuição na China desde 2012. Em 2024, a empresa anunciou a ampliação de sua presença com foco em produtos processados e parcerias locais, com investimentos estimados em US$ 150 milhões.
  • Vale: a mineradora brasileira possui escritórios e centros logísticos na China, seu principal mercado consumidor de minério de ferro. Embora a maior parte das operações seja comercial, a Vale investe em tecnologia e logística para atender à demanda chinesa, com aportes que ultrapassam US$ 300 milhões ao longo da última década.
  • Embraer: a fabricante de aeronaves mantém parcerias com companhias aéreas chinesas e centros de manutenção autorizados no país. Em 2023, a empresa anunciou um acordo para ampliar sua rede de suporte técnico na China, com investimentos de cerca de US$ 50 milhões.
  • Natura &Co: o grupo brasileiro de cosméticos, que inclui Natura, Avon e The Body Shop, iniciou operações comerciais na China em 2021. Em 2025, a empresa anunciou a instalação de um centro de distribuição em Xangai, com investimento inicial de US$ 30 milhões.
  • Weg: a fabricante de equipamentos elétricos e automação industrial possui unidades comerciais e centros de serviço na China. Em 2024, a Weg ampliou sua atuação com um novo centro de engenharia em Shenzhen, com investimento de US$ 25 milhões.

Desafios e perspectivas

Apesar dos avanços, o número de empresas brasileiras com presença produtiva na China ainda é pequeno. A maioria das operações é voltada à exportação e distribuição, com poucos casos de fábricas ou centros de P&D. A ApexBrasil aponta que o ambiente regulatório complexo, as barreiras linguísticas e a forte concorrência local são fatores que limitam a expansão brasileira no mercado chinês.

No entanto, com o fortalecimento das relações bilaterais e a crescente demanda chinesa por alimentos, energia limpa e produtos sustentáveis, há espaço para ampliar a presença brasileira — especialmente em setores como agronegócio, cosméticos, tecnologia verde e logística.

Pelo que se vê, a China está deixando de ser apenas uma fornecedora de produtos acabados, mas já está atuando como parceira essencial na produção local, além da promessa de ajudar na promoção da inovação local e no desenvolvimento econômico sustentável. Com fábricas, centros de distribuição e investimentos em P&D, empresas como XCMG, BYD e GWM estão redesenhando o mapa industrial brasileiro — e criando oportunidades para uma nova geração de empregos, tecnologia e infraestrutura.

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