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Longevidade precisa entrar na agenda do mercado financeiro

O aumento da expectativa de vida da população exige que o mercado adote estratégias específicas para o público mais velho

A proporção de brasileiros e brasileiras acima de 65 anos já ultrapassa 10% da população. Em números absolutos, o crescimento dessa faixa etária é superior a 40% nos últimos dez anos. Isso tem uma série de impactos sociais e econômicos, com reflexos na previdência social, no mercado de trabalho e nos serviços de saúde, para ficar só nos mais óbvios.

O tema ganha ainda mais relevância quando olhamos para as projeções, que indicam 20% a 25% da população brasileira acima de 65 anos até 2040. O assunto ganhou tamanha proporção mundialmente que a Organização das Nações Unidas (ONU) designou o dia 1º de outubro como Dia Internacional do Idoso, uma data voltada à reflexão sobre os direitos e a dignidade desta população, além de conscientizar a sociedade sobre o envelhecimento.

Trata-se de uma clientela ainda pouco explorada pelo mercado financeiro. Tirando a oferta de crédito consignado para aposentados, pouco ou quase nada se vê em termos de estratégia voltada exclusivamente para esse público.
Basta olhar para as ações de educação financeira, que, em sua grande maioria, miram os jovens. É inegável a importância de se aprender a lidar com dinheiro desde cedo. Jovens conscientes tendem a ser adultos mais bem preparados para a vida financeira. Mas, o que é feito para a chamada geração prateada? O conceito nasceu em referência aos cabelos grisalhos e ganha força à medida que essa população aumenta não só a participação na pirâmide social, mas também provoca mudanças em indústrias como turismo, imobiliária e tecnologia.

E eu não me refiro só à educação financeira para essa geração. Falo da oferta de produtos específicos a esta fase da vida; de disponibilizar soluções tecnológicas que atendam às necessidades e limitações desses clientes; de um suporte técnico apto a auxiliar os mais velhos a utilizarem plataformas e canais digitais; de consultoria e acompanhamento financeiro individualizado; de profissionais de atendimento com sensibilidade, empatia e habilidades de comunicação para uma abordagem mais humanizada; do desenvolvimento de programas e campanhas de incentivo que valorizem a longevidade e a lealdade do cliente.

Tenho certeza de que as equipes de marketing e de negócios são criativas o bastante para propor produtos, soluções e abordagens que atendam a esses públicos específicos. Não faltam exemplos: universitários, microempreendedores, mulheres e segmentos profissionais como médicos ou professores já foram ou são alvo de abordagens específicas.

O aumento da expectativa de vida da população torna imperativo olhar para a longevidade também sob o aspecto de negócio. E o mercado financeiro tem um papel a cumprir nessa temática, e ele vai além de aspectos relacionados ao planejamento financeiro.
Claro que o planejamento é importante. É sabido que uma boa saúde financeira é determinante para um envelhecimento tranquilo. Estudos que correlacionam aspectos financeiros com saúde mental atestam que idosos submetidos a estresse financeiro têm mais probabilidade de desenvolver sintomas depressivos.

É um tema complexo e que exige uma abordagem multidisciplinar. Precisamos olhar para a longevidade como uma mudança estrutural, que impacta toda a sociedade, e como tal exige estratégias integradas.

Zeca Doherty é CEO da Anbima e possui coluna no veículo Valor Investe

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