A mineração brasileira, historicamente reconhecida como um dos pilares da economia nacional, vive um momento de transformação. Em meio às pressões ambientais, às exigências sociais e às disputas geopolíticas por minerais estratégicos, o setor busca novas engrenagens para continuar impulsionando o desenvolvimento do país. A Exposibram 2025, maior evento de mineração da América Latina, tem sido o palco para discutir esses desafios e oportunidades, reunindo lideranças globais, especialistas, empresas e autoridades entre os dias 27 e 30 de outubro, no Centro de Convenções de Salvador (BA).
Mineração e transição energética: o elo invisível
A transição energética global, que visa substituir fontes fósseis por alternativas limpas como solar e eólica, depende diretamente da mineração. Minerais como lítio, níquel, cobre e terras raras são essenciais para baterias, turbinas, painéis solares e sistemas de armazenamento. Sem eles, a descarbonização da matriz energética seria inviável.
Durante a recente edição de outro evento do setor, a ABM Week, a consultora Vânia Lúcia de Lima Andrade destacou que, embora a matriz elétrica brasileira seja majoritariamente limpa, as emissões de CO₂ do setor mineral vêm principalmente da logística — caminhões, trens e navios. “Ao falar em redução de geração de CO₂, precisamos olhar principalmente para a logística”, afirmou. Ela também ressaltou que a mineração pode ajudar a siderurgia a reduzir impactos por meio do fornecimento de minério de qualidade superior e produtos com menor pegada ambiental, como o briquete verde.
Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos: novo marco regulatório
No Congresso Nacional, o Projeto de Lei 2780/2024 propõe a criação da Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos. Relatado pelo deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), o projeto se apoia em três pilares:
- Taxonomia: definição clara e atualizada dos minerais críticos e estratégicos, incluindo os essenciais à transição energética e à segurança alimentar.
- Governança: criação de instâncias de gestão e acompanhamento do setor, conferindo estabilidade e perenidade legal às políticas minerais.
- Incentivos: medidas fiscais, tributárias e financeiras, como isenção de Imposto de Renda sobre marcas e patentes, regime aduaneiro especial para importações voltadas à pesquisa mineral e fundo garantidor privado para financiar projetos.
O projeto também prevê que empresas destinem 0,40% da receita bruta para pesquisa e desenvolvimento tecnológico, além da extensão da Lei do Bem e inclusão no REIDI. O objetivo é transformar o potencial mineral brasileiro em riqueza agregada, reduzindo a dependência de insumos refinados do exterior.
Geopolítica dos minerais: o Brasil no tabuleiro global
A crescente demanda por minerais estratégicos tem gerado uma corrida global por reservas e tecnologias de refino. O Brasil, que possui a segunda maior reserva de terras raras do mundo, ainda carece de tecnologia para o refino desses materiais. “Precisamos transformar potencial em riqueza com estabilidade política e segurança jurídica”, afirmou o deputado Kenniston Braga (MDB-PA).
O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Raul Jungmann, reforçou que os minerais críticos são essenciais à transição energética, segurança alimentar e defesa nacional. “O Brasil possui um passaporte para o futuro, mas precisa acelerar o mapeamento do território, reduzir a morosidade regulatória e garantir que a mineração seja sustentável, segura e transparente”, disse.
Sustentabilidade e imagem pública: o desafio da mineração brasileira
Apesar de ocupar menos de 0,1% do território nacional, a mineração ainda é vista como atividade poluente. A coordenadora Vânia Andrade defende que o setor precisa adotar o fechamento progressivo das minas, com recuperação ambiental ao longo da vida útil do empreendimento. “As boas empresas de mineração são cientes de que, se não reverterem a imagem da atividade perante a sociedade, seu futuro ficará comprometido”, afirmou.
No radar estão fatos como o apontado pelo estudo da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, que mostrou que os desastres climáticos no Brasil aumentaram cerca de 250% entre 2020 e 2023. Os impactos incluem indisponibilidade de água, chuvas intensas, vulnerabilidades nos sistemas de energia e logística, e riscos à segurança operacional. Esses fatores exigem adaptação e planejamento estratégico por parte das mineradoras.
Exposibram 2025: onde o futuro da mineração será desenhado
A Exposibram 2025, que termina no dia 30 de outubro, conta com empresas e diversos especialistas do setor, incluindo líderes globais como Gustavo Pimenta (presidente da Vale), Ana Sanches (presidente da Anglo American no Brasil), Raul Jungmann (diretor-presidente do IBRAM) e Rohitesh Dhawan (CEO do International Council on Mining and Metals – ICMM).
Na programação, painéis sobre inovação, ESG, transição energética, investimentos, políticas públicas e geopolítica dos minerais. A Bahia será destaque como nova fronteira mineral do Brasil, com foco em jazidas estratégicas de cobre, lítio e terras raras. O governador Jerônimo Rodrigues, que participou de evento especial na programação, destacou a importância da Exposibram para atrair investimentos e consolidar a região como polo de mineração sustentável.
E apesar da mineração brasileira seguir sendo um dos motores da economia nacional, ela precisa de novas engrenagens para enfrentar os desafios do século XXI. A Exposibram 2025 pode ser um espaço para ajudar a redesenhar esse futuro — com inovação, responsabilidade e protagonismo global.