O anúncio que será emitido sobre as taxas de juros americanas após a reunião do Federal Reserve marcada para hoje, 17 de setembro, é um dos eventos mais aguardados pelo mercado financeiro global neste segundo semestre.
Com a inflação americana em desaceleração — o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 3,7% em agosto, abaixo das projeções — investidores esperam que o Fed sinalize uma possível mudança de postura, com cortes graduais na taxa básica de juros ainda em 2025.
A expectativa é de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) mantenha os juros no intervalo atual de 5,25% a 5,50%, mas o foco estará nas projeções futuras e no tom do comunicado. A desaceleração da inflação, combinada com sinais de enfraquecimento no consumo e na produção industrial, abre espaço para uma abordagem mais “dovish” — ou seja, menos agressiva na contenção da demanda.
Fundamentos da economia americana no segundo semestre de 2025: A economia dos Estados Unidos mostra sinais mistos. Por um lado, o mercado de trabalho continua resiliente, com taxa de desemprego abaixo de 4%. Por outro, o consumo das famílias perdeu força, e a produção industrial cresceu no ritmo mais lento em mais de um ano. O setor imobiliário também enfrenta ajustes, com queda nos preços e menor volume de novos financiamentos.
O CPI, índice que mede a variação de preços de bens e serviços de uma cesta de produtos, de agosto, divulgado pelo Bureau of Labor Statistics, trouxe alívio ao mercado, mas ainda está acima da meta de 2% do Fed. A inflação de serviços, em especial, continua pressionada, o que pode justificar uma postura cautelosa por parte da autoridade monetária.
Impacto global dos índices americanos: As decisões do Fed têm efeito cascata sobre a economia mundial. Juros mais altos nos EUA tendem a fortalecer o dólar, encarecer o crédito internacional e pressionar moedas de países emergentes. Já cortes de juros aliviam as condições financeiras globais, favorecendo investimentos em mercados como o Brasil.
O especialista em mercado financeiro e professor da FIPECAFI, Rogério Mauad, destaca que “futuros cortes de juros do Fed ajudam, porque aliviam dólar e condições financeiras globais. Mas não substituem o que é doméstico: serviços, expectativas e prêmio fiscal.”
Segundo ele, um Fed mais “dovish” (políticas monetárias mais flexíveis) é uma condição permissiva para o Copom, mas não determinante. “Hoje, a taxa real implícita está elevada. O hiato do produto não é suficientemente negativo para puxar a Selic para baixo de forma segura”.
O que o mercado espera: Manutenção dos juros, com a maioria dos analistas apostando na manutenção da taxa atual, com cortes iniciando no último trimestre; Sinalização futura, com um tom de comunicado sendo decisivo para os mercados de renda fixa e câmbio; Impacto sobre emergentes, com países como Brasil, México e Índia monitorando os desdobramentos para ajustar suas próprias políticas monetárias.
Por que é importante? O Fed define o custo do dinheiro no maior mercado financeiro do mundo. Suas decisões influenciam o fluxo de capitais, o câmbio e os juros em países emergentes. A sinalização de cortes pode destravar investimentos e aliviar pressões sobre dívidas corporativas e soberanas. Para o Brasil, um Fed mais brando pode abrir espaço para ajustes na Selic — mas com cautela.
A quem impacta? Empresas exportadoras: Sensíveis à variação cambial e à demanda externa; Gestores financeiros: Precisam reavaliar portfólios diante de mudanças na curva de juros; Startups e scale-ups: Dependem de capital mais barato para crescer; Governos e bancos centrais: Ajustam suas políticas monetárias com base nas decisões do Fed; Consumidores: Sentem os efeitos indiretos via crédito, inflação e emprego.
Checklist de ações para gestores de empresas: Reavaliar contratos internacionais e exposição cambial; Monitorar a curva de juros americana e seus reflexos sobre o custo de capital; Ajustar projeções de fluxo de caixa e investimentos com base em cenários de política monetária; Fortalecer a comunicação com investidores e stakeholders sobre riscos macroeconômicos; Considerar hedge financeiro para operações em dólar.
Análise GZM: A reunião do Fed de setembro não deve trazer cortes imediatos, mas pode redefinir expectativas para o último trimestre do ano. O mercado busca sinais claros de que a autoridade monetária está pronta para iniciar uma transição gradual, sem comprometer o combate à inflação.
Para o Brasil, o movimento é relevante, mas não suficiente: como alerta Rogério Mauad, da FIPECAFI, o Copom precisa olhar para os fundamentos domésticos antes de seguir qualquer tendência externa.
A política monetária global está em ponto de inflexão — e os próximos passos do Fed serão observados com lupa por quem toma decisões estratégicas em qualquer parte do mundo.
No Brasil, mercado ajusta projeções para 2026 com expectativa de manutenção da Selic
Na Super Quarta de setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve manter a taxa Selic em 15% ao ano, de acordo com as expectativas do mercado.
A decisão reforçaria o tom conservador da autoridade monetária diante de um cenário que combina núcleos de inflação ainda pressionados, dúvidas sobre a trajetória fiscal e um mercado de trabalho que segue aquecido.
Segundo o professor Rogério Mauad, especialista em mercado financeiro da FIPECAFI, “o que mais pesa ao Copom não é a leitura cheia do IPCA, mas os núcleos — serviços subjacentes, médias aparadas, exclusões — e a difusão. O Copom vai querer vários meses de núcleo benigno seguidos e queda visível na dispersão antes de iniciar cortes”.
Fundamentos da economia brasileira no segundo semestre de 2025: A atividade econômica mostra sinais de moderação, mas sem colapso. O canal de crédito já foi impactado pela política monetária restritiva, encarecendo e encurtando prazos.
Ainda assim, o consumo de serviços permanece resiliente. O hiato do produto é levemente negativo para neutro — insuficiente, por si só, para entregar a desejada desinflação.
No campo fiscal, o prêmio de risco doméstico continua elevado. A dívida bruta do setor público deve encerrar o ano em 79,8% do PIB, segundo o Grupo Consultivo Macroeconômico da ANBIMA.
O déficit primário foi revisado para 0,52% do PIB. “Enquanto o mercado precificar dúvida sobre a trajetória fiscal, a Selic acima do neutro vira âncora de expectativas”, afirma Mauad.
Projeções para 2026: O Grupo Consultivo Macroeconômico da ANBIMA projeta que a Selic será reduzida para 14,75% em janeiro de 2026, com cortes graduais ao longo do ano até atingir 12% em dezembro.
A inflação, medida pelo IPCA, deve fechar 2025 em 4,8%, ainda acima da meta de 3%. O câmbio deve encerrar o ano a R$ 5,50, com o dólar se desvalorizando frente a outras moedas em meio ao desaquecimento da economia norte-americana.
Já Marcelo Giorgi, analista da WIN Invest, destaca que “a manutenção da Selic em 15% somada à possibilidade de redução dos juros nos EUA pode trazer fluxo de capital ao Brasil, beneficiando não apenas a renda fixa, mas também o mercado acionário”. Segundo ele, ações de empresas descontadas podem se tornar atrativas, especialmente diante do aumento do prêmio de risco Brasil.
Taxa Selic em foco – Por que importa? A Selic é o principal instrumento de controle da inflação no Brasil; Define o custo do crédito para empresas e consumidores; Impacta diretamente o câmbio, os investimentos e o crescimento econômico; Serve como referência para decisões de política monetária em países emergentes.
A quem impacta? Empresas endividadas: Sentem o peso do custo elevado de capital; Investidores institucionais: Ajustam portfólios com base na curva de juros; Startups e scale-ups: Enfrentam maior dificuldade para captar recursos; Exportadores e importadores: Sofrem com volatilidade cambial; Consumidores: Pagam mais caro por crédito e financiamento.
Checklist de ações para empresas e gestores: Reavaliar estrutura de capital e exposição a juros; Monitorar núcleos de inflação e expectativas de mercado; Ajustar planos de investimento e expansão com base em cenários de política monetária; Fortalecer a comunicação com stakeholders sobre riscos macroeconômicos; Considerar hedge cambial e financeiro para operações internacionais.
A decisão do Copom, caso se confirme a manutenção da Selic em 15%, reforçaria o compromisso com a estabilidade de preços, mesmo diante da pressão por estímulos ao crescimento.
O Banco Central, nesse caso, parece optar por cautela, aguardando sinais mais consistentes de desinflação nos núcleos e maior clareza sobre a trajetória fiscal. Para o mercado, o recado é claro: o ciclo de afrouxamento não começa com um “suspiro”, mas com uma convicção técnica.
E para saber mais detalhes sobre os movimentos de política monetária desta semana, a GZM conversou com Flávio Serrano, economista-chefe do Banco BMG. Confira:
GZM: Como o enfraquecimento do mercado de trabalho nos EUA e a inflação pressionada por tarifas afetam a decisão do Fed de cortar juros agora?
Flávio Serrano: O Fed vinha mostrando preocupação com os possíveis impactos da política de tarifas sobre os preços domésticos em um ambiente de mercado de trabalho apertado. Agora, com a desaceleração mais forte do emprego, o Banco Central americano ganha confiança para iniciar o processo de alívio monetário. Inclusive, com os desdobramentos recentes, não se pode descartar um cenário com 3 cortes de juros ainda no ano de 2025.
GZM: Quais os impactos esperados de um corte de 25 pontos-base nos EUA sobre os fluxos de capital para mercados emergentes como o Brasil?
Flávio Serrano: No curto prazo, o efeito é modesto. Entretanto, a continuidade dos cortes ao longo do restante de 2025 e início de 2026 tende a aumentar a liquidez no âmbito global e poderia influenciar de maneira benigna o fluxo de capitais para países emergentes.
GZM: O Banco Central brasileiro também sinaliza corte na Selic. Como o alinhamento entre as políticas monetárias dos dois países pode influenciar o câmbio e os investimentos estrangeiros?
Flávio Serrano: O Banco Central do Brasil ainda não sinalizou cortes na Selic. Pelo contrário, a mensagem é de manutenção da taxa num patamar contracionista por um período bastante prolongado – deixando margem, inclusive, para novos aumentos se o comitê julgar apropriado.
Com a taxa inalterada aqui e caindo lá fora, é provável que a dinâmica da moeda siga favorável. Já em relação aos investimentos estrangeiros diretos, o fluxo está mais associado às perspectivas de crescimento de médio prazo do que pelo diferencial de juros entre Brasil e EUA.
GZM: Diante da perspectiva de juros mais baixos, quais setores da economia brasileira tendem a se beneficiar mais no curto prazo?
Flávio Serrano: Quando os juros voltarem a cair, o mais provável é que setores como bens de capital e bens de consumo duráveis tenham um desempenho mais vigoroso do que setores cuja dinâmica depende mais da renda.
Entretanto, é importante reforçar que os efeitos de medidas de política monetária atingem a economia com defasagens importantes. Assim, no curto prazo, mesmo com a queda dos juros, será natural observar ainda uma economia mostrando desaceleração no ritmo de atividade econômica.
GZM: Com inflação ainda pressionada nos EUA e sinais de desaceleração no Brasil, há risco de que os cortes sejam prematuros ou insuficientes? Como calibrar essa decisão?
Flávio Serrano: O risco de cortar a taxa de juros antes da hora pode limitar as quedas futuras. O ponto crucial para o BC será balancear um mercado de trabalho ainda apertado e expectativas desancoradas com os sinais incipientes de arrefecimento da atividade.
Esperar um pouco mais para começar o processo permitirá à autoridade monetária acumular informações e ter maior confiança no cenário de convergência da inflação para a meta.

Atualização da matéria
14h: O Federal Reserve (Fed) reduziu as taxas de juros em 0,25 ponto percentual na quarta-feira, após autoridades sinalizarem que mais dois cortes podem ocorrer este ano, em vista dos crescentes riscos enfrentados pelo mercado de trabalho. A decisão de reduzir os custos dos empréstimos pela primeira vez desde dezembro eleva as taxas de juros para uma faixa de 4% a 4,25%. A decisão não foi apoiada por unanimidade, sendo a segunda reunião consecutiva com pelo menos uma divergência de um membro do Conselho de Governadores.
19h: O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa básica de juros da economia (Selic) em 15%. O anúncio foi feito no início da noite desta quarta-feira (17), depois de uma reunião de dois dias entre o presidente do Banco Central (BC) e seus diretores.
No comunicado oficial, o Copom justifica a manutenção da Selic pela incerteza do ambiente externo, “em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos”.
O que, segundo o comitê, exige cautela “por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica”.
Também é citado o cenário doméstico. Para o Copom, os indicadores de atividade econômica apresentam “moderação no crescimento”, apesar do “dinamismo” do mercado de trabalho, e a inflação permanece acima da meta.
“As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 4,8% e 4,3%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2027, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,4% no cenário de referência”, diz a nota do Copom.
Cenário inalterado
Na reunião anterior, nos dias 29 e 30 de julho, o Copom decidiu interromper o ciclo de alta da taxa de juros, mantendo a Selic em 15% ao ano, sob a justificativa de que o ambiente externo está mais adverso, por conta das políticas comerciais e fiscais adotadas pelos Estados Unidos (EUA).
As decisões são tomadas levando em conta a situação inflacionária, as contas públicas, a atividade econômica e o cenário externo – tudo tendo como base a avaliação do cenário macroeconômico e os principais riscos a ele associados.
As atas do Copom são publicadas no prazo de até quatro dias úteis. Esta foi a sexta reunião do ano do comitê. A taxa básica de juros da economia (Selic) vale para os próximos 45 dias, quando o Copom volta a se reunir.
Selic
Para alcançar a meta de inflação, o Banco Central usa como principal instrumento a Selic. Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Os bancos consideram outros fatores além da Selic na hora de definir os juros a serem cobrados dos consumidores, entre eles risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.
Assim, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia. Quando a taxa Selic é reduzida, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle sobre a inflação e estimulando a atividade econômica.
Com informações da Agência Brasil