A gigante americana de tecnologia e varejo Amazon anunciou recentemente que vai reforçar sua ofensiva na América Latina com um investimento de US$ 25 milhões na colombiana Rappi, plataforma de entregas rápidas fundada na Colômbia e que atua fortemente no Brasil e em diversos países da região.
O acordo inclui a possibilidade de aquisição de até 12% da empresa por meio de warrants, um modelo que garante à Amazon, sem obrigatoriedade, aquisição do percentual da Rappi, caso metas específicas sejam atingidas — um modelo que permite à compradora “testar o terreno” antes de um eventual avanço mais agressivo.
Embora o movimento tenha sido apresentado como uma parceria estratégica, ele revela muito mais: trata-se de uma extensão direta do modelo de negócios da Amazon, que combina inovação logística, inteligência de dados e expansão em mercados emergentes.
A Rappi, com sua capilaridade urbana e base tecnológica consolidada, oferece à Amazon uma ponte para superar um dos maiores desafios da região — a entrega de última milha.
A lógica por trás da aposta
Segundo dados disponíveis no mercado, a Amazon tem como principais forças competitivas:
- Superioridade logística e distribuição
- Capacidade de inovação e diferenciação
- Estratégia “Go Global, Act Local”
- Domínio em tecnologia e dados via AWS
- Histórico de aquisições bem-sucedidas
A entrada na Rappi se encaixa perfeitamente nesse arcabouço. A startup colombiana já mantém parceria com a Amazon Web Services e, em 2024, integrou o serviço Prime no México com frete grátis — um sinal claro de alinhamento operacional e estratégico.
“A Amazon entende que, para crescer na América Latina, precisa de parceiros locais que conheçam o território e tenham agilidade para operar em ambientes complexos. A Rappi é esse parceiro”, afirma um analista do setor.
Disputa com Mercado Livre e o futuro do e-commerce regional
O investimento também é interpretado como uma resposta direta ao domínio do Mercado Livre, que lidera o e-commerce latino-americano com uma rede logística robusta e crescente presença em serviços financeiros. Ao fortalecer sua operação com a Rappi, a Amazon se posiciona para competir em velocidade, conveniência e fidelização — três fatores decisivos no varejo digital.
A Rappi, por sua vez, ganha fôlego para expandir sua infraestrutura, melhorar sua tecnologia e enfrentar concorrentes como iFood, Uber Eats e startups locais. A sinergia entre as duas empresas pode gerar ganhos em personalização, eficiência logística e uso inteligente de dados de consumo.
Expansão em mercados emergentes: uma prioridade estratégica
Uma análise com a ferramenta SWOT sobre a operação da Amazon destaca que os mercados emergentes devem representar 64% do varejo online global até 2024. A América Latina, com sua população urbana crescente e demanda por serviços digitais, é vista como uma das últimas grandes fronteiras do e-commerce.
A empresa, que já domina mercados maduros como EUA e Europa, precisa de soluções adaptadas para crescer na região e a Rappi oferece justamente isso: uma operação local, flexível e conectada às necessidades do consumidor latino-americano.
Mais do que logística, uma estratégia de ecossistema
A parceria entre Amazon e Rappi, pelo que se percebe, não é apenas sobre entregas — é sobre construir um ecossistema integrado, onde logística, tecnologia, dados e experiência do cliente convergem. Se bem-sucedida, essa aliança pode redefinir o padrão de consumo digital na América Latina e consolidar a Amazon como líder regional.
A pergunta que fica é: será essa apenas uma etapa de aproximação ou o prelúdio de uma aquisição total? Se o histórico da Amazon servir de guia, a resposta pode estar mais próxima do que parece.
As maiores investidas da Amazon
A GZM pesquisou as operações de aquisição na empresa americana para tentar entender seu movimento estratégico. Confira:
| Empresa | Setor | Valor da Aquisição (em bilhões de USD) |
| Whole Foods | Supermercados orgânicos | 13,7 |
| Metro-Goldwyn-Mayer | Produções cinematográficas | 8,5 |
| Zoox | Condução autônoma | 1,2 |
| Zappos | Comércio eletrônico | 1,2 |
| Twitch | Transmissão ao vivo | 1,0 |
| Ring | Tecnologia para casas inteligentes | 1,0 |
| Kiva Systems | Centros de distribuição | 0,8 |
| PillPack | Farmácia online | 0,8 |
Com base nessa informação sobre as maiores aquisições da Amazon, é possível identificar padrões claros sobre os setores estratégicos que a empresa prioriza em sua expansão global e de acordo com os principais segmentos-alvo:
Setores em que a Amazon mais investe
| Setor | Empresas adquiridas | Valor total investido (estimado) |
| Alimentação e varejo físico | Whole Foods | US$ 13,7 bilhões |
| Entretenimento e mídia | Metro-Goldwyn-Mayer, Twitch | US$ 9,5 bilhões |
| Tecnologia e inovação | Zoox, Ring, Kiva Systems | US$ 3 bilhões |
| E-commerce especializado | Zappos | US$ 1,2 bilhões |
| Saúde digital | PillPack | US$ 0,8 bilhões |
Fazendo uma análise mais detalhada das aquisições, a equipe da GZM observou os seguintes pontos:
1. Alimentação e varejo físico: A aquisição da Whole Foods, maior da história da Amazon, mostra o interesse em integrar o varejo físico ao digital. A estratégia é ampliar o alcance do Amazon Fresh e consolidar a presença em supermercados premium, com foco em consumidores urbanos e de alto poder aquisitivo.
2. Entretenimento e mídia: Com Metro-Goldwyn-Mayer e Twitch, a Amazon reforça sua presença no streaming e na produção de conteúdo. Isso fortalece o Amazon Prime Video e posiciona a empresa como concorrente direta da Netflix, Disney+ e YouTube, além de atrair públicos jovens e engajados.
3. Tecnologia e inovação: Investimentos em Zoox (carros autônomos), Ring (casas inteligentes) e Kiva Systems (automação de centros logísticos) revelam o foco da Amazon em automação, inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT). São apostas de longo prazo para aumentar eficiência e criar novos serviços.
4. E-commerce especializado: Zappos representa a diversificação dentro do próprio e-commerce, com foco em nichos como moda e calçados. A Amazon busca dominar verticais específicas com marcas reconhecidas e operação própria.
5. Saúde digital: Com PillPack, a Amazon entra no setor farmacêutico, mirando a integração entre e-commerce, logística e serviços de saúde. A aquisição é estratégica para competir com redes de farmácias e explorar o mercado de medicamentos recorrentes.
Um ecossistema em expansão
Como se percebe, a Amazon não está investindo apenas para crescer — ela está construindo um ecossistema integrado que conecta varejo, tecnologia, mídia, saúde e logística. Cada aquisição parece fortalecer uma peça desse quebra-cabeça, ampliando o poder da empresa sobre o cotidiano dos consumidores.
A entrada na Rappi, portanto, parece ser mais um movimento calculado para dominar a última milha na América Latina e consolidar sua presença em mercados emergentes.