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Natal sob pressão: empresas ajustam estratégias diante do tarifaço global

Imagem do evento Inpire World Tour 2025 durante o lançamento da pesquisa Coupa sobre o natal, onde espera-se um movimento de ajustes dos consumidores ao cenário global
Dados mostram que 75% dos compradores estão migrando para estratégias de nearshoring, enquanto 61% apostam no onshoring, buscando mitigar riscos trazendo operações de volta ao país de origem

Com a aproximação da temporada mais lucrativa do varejo global, o clima entre fornecedores e compradores corporativos está longe de ser festivo. A nova pesquisa global da Coupa, empresa californiana de tecnologia aplicada à cadeia de suprimentos que adota o modelo “AI first”, divulgada esta semana durante o evento Inspire World Tour 2025, em São Paulo, revela um cenário de alerta: tarifas comerciais em alta estão redesenhando as estratégias empresariais para o Natal, com aumento de preços, margens comprimidas e consumidores mais cautelosos.

A pesquisa mostra que 49% dos fornecedores planejam elevar os preços como resposta direta às tarifas. O movimento é especialmente intenso nos setores de brinquedos e jogos (70%) e eletrônicos de consumo (50%), justamente os campeões de vendas natalinas. 

A expectativa é de que os preços subam entre 5% e 10%, o que pode representar um impacto mensal de até USD 300 no orçamento familiar — um ajuste que tende a reduzir o volume de presentes sob a árvore.

Além disso, 46% dos fornecedores estão ampliando seus estoques como forma de mitigar riscos logísticos e garantir disponibilidade durante o pico de demanda. No entanto, 69% dos fornecedores norte-americanos já preveem queda de receita neste fim de ano, sinalizando que o aumento de preços pode não ser suficiente para compensar o impacto das tarifas.


Reconfiguração do sourcing: o novo mapa da produção

A pesquisa também revela uma mudança significativa na geografia da produção. Em resposta às tarifas, 75% dos compradores estão migrando para estratégias de nearshoring — aproximando suas cadeias produtivas de seus mercados consumidores — enquanto 61% apostam no onshoring, trazendo operações de volta ao país de origem.

Essa reconfiguração visa reduzir a exposição a riscos comerciais e garantir maior previsibilidade. A China, os EUA e a Alemanha aparecem como os principais países dos quais empresas estão se afastando, em busca de fornecedores mais estáveis e competitivos.


Um mês de tarifas no Brasil e impactos já são sentidos

Segundo Marcello Carvalho, economista da WIT Invest, o impacto do tarifaço sobre a economia brasileira, embora inicialmente menor do que o esperado, já começa a se manifestar. “Continuamos vendendo toneladas de carne para os EUA, porém a preços maiores. Setores como o de pedras, por outro lado, não conseguiram alternativas e sofrem com as tarifações, sem uma luz no fim do túnel”, afirma.

Carvalho também destaca que a exclusão de alguns produtos da lista tarifária, como o suco de laranja, evitou um colapso imediato em certos segmentos. No entanto, alerta para o risco estrutural: “Se o tarifaço se prolongar, o Brasil terá que encontrar novos compradores nos mesmos volumes e preços negociados com os EUA. Caso contrário, teremos uma perda significativa de empregos em todo o território nacional.”

O economista aponta ainda para o desgaste nas relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos. “Em vez de negociarmos, ambos os governos têm adotado posturas mais agressivas, recorrendo a cortes globais e estudando retaliações. Essa guerra comercial não trará vantagens para nenhum país.”

No cenário internacional, o Brasil busca novos mercados com mais intensidade, o que, segundo Carvalho, pode enfraquecer sua posição nas negociações. “Os países sabem que estamos em busca de alternativas, o que pode resultar em condições menos favoráveis para nós.”

Apesar disso, ele acredita que o investidor estrangeiro segue atento a oportunidades no Brasil: “A economia brasileira ainda apresenta múltiplos de ações baratos. Com a proximidade das eleições, devemos ver mais posições sendo montadas com foco em 2027.”


Tecnologia como aliada da resiliência

Em meio à turbulência tarifária, a Coupa defende o uso intensivo de inteligência artificial para fortalecer a resiliência das cadeias de suprimentos. Segundo Nari Viswanathan, diretor sênior de Estratégia da cadeia de suprimentos da empresa, “as empresas que não se adaptarem rapidamente correm o risco de perder sua vantagem competitiva”.

A IA criada pela Coupa promete antecipar aumentos de custos, otimizar operações e aprimorar a gestão de estoques — ferramentas cruciais para enfrentar um Natal marcado por incertezas e margens apertadas.

Segundo a pesquisa, nos EUA, 84% dos consumidores já colocam o preço como principal fator de decisão de compra, superando qualidade e variedade. Com o custo de vida em alta e os efeitos das tarifas se aproximando das prateleiras, 67% dos consumidores afirmam ter ajustado seus gastos, priorizando itens essenciais e substituindo marcas por genéricos.

A tendência é clara: menos presentes, mais racionalidade. Para as empresas, isso exige uma abordagem mais estratégica, com foco em valor percebido, promoções agressivas e canais digitais eficientes.

O tarifaço global, pode, desta forma, estar redesenhando o Natal de 2025. Para as empresas, o desafio é duplo: proteger margens e manter a atratividade diante de um consumidor mais exigente e menos disposto a gastar. 

Aquelas que conseguirem combinar tecnologia, agilidade e inteligência comercial poderão transformar a crise em oportunidade — e garantir que, mesmo com menos presentes, o espírito natalino continue vivo nas vitrines. E nos balanços, claro!

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