Conduzir uma reunião tensa com um cliente, demitir um colaborador ou dar um feedback difícil são atividades rotineiras no dia a dia de um líder e que tem um custo emocional individual. Em paralelo, há uma renovada pressão por resultados, novos formatos de trabalho e a missão constante de guiar e apoiar as equipes em meio às mudanças constantes e à agitação política e econômica global.
A última pesquisa da Gallup, de 2024, indica uma baixa no engajamento global nas organizações, só que desta vez se deve ao maior desengajamento de gestores e líderes e não de colaboradores mais operacionais. O desgaste emocional e mental é um custo real e significativo da liderança atual. Ao longo do tempo, passar por cima destas situações cumulativamente, sem pausar para processar os eventos, pode ter impactos significativos na saúde, eficácia como líder e relacionamentos profissionais e pessoais.
Mas que sinais podemos identificar no dia a dia, que nos permitam reconhecer esse cenário antes que se torne um problema mais grave, que possa até levar ao esgotamento ou burnout?
Esta fadiga pode ser observada em comportamentos de reatividade aumentada, irritabilidade, dificuldade de manter diálogos saudáveis ou para resolver problemas ou conflitos. Além disso, baixa energia e cansaço recorrente, dificuldade de concentração e de dormir, apetite irregular, dores de cabeça, também são pontos de atenção.
Compreensivelmente os líderes focam, majoritariamente, em gerenciar e apoiar os outros no meio dos momentos desafiadores que vivemos, deixando pouco ou nenhum espaço para sua autogestão. Só que a recuperação emocional e a preservação do equilíbrio e energia não são mais um luxo. São um imperativo da liderança, crítico para proteger o seu bem-estar e saúde e sua capacidade de liderar no médio e longo prazo.
Algumas práticas podem ser incorporadas à rotina para preservar o equilíbrio, a saúde e a energia no dia a dia de forma consciente e intencional.
Refletir é uma prática que ajuda a processar e metabolizar as experiências e respectivas emoções, já que ao ignorá-las, elas não desaparecem, elas se acumulam e operam inconscientemente. Reconhecer, dar sentido e aceitar os sentimentos sem julgamento, aumenta a boa-forma mental e emocional dos líderes, reduzindo a ansiedade e aumentando a sua performance profissional. A sugestão é criar um ritual, ao fim de cada dia ou evento desafiador, e considerar pensar, escrever, gravar um áudio ou falar com alguém, um par ou mentor de sua confiança, afinal liderar pode ser uma experiência solitária. A pesquisa mostra que escrever e ter um apoio social, contribui para dar sentido aos eventos e aumenta a auto-consciência, resiliência e inteligência emocional, além de promover clareza e capacidade de conexão e empatia interpessoais.
A reflexão não demanda muito tempo, apenas a disciplina para pausar no meio do corre-corre diário.
Reformular crenças e perspectivas, por vezes limitantes, pode abrir novos significados e possibilidades sobre os eventos e experiências. Frequentemente os modelos mentais e desejo de controle condicionam as emoções e reações dos líderes, repetindo padrões de comportamentos que os sabotam inconscientemente. Quando mudam a história na sua cabeça, mudam a sua experiência e ganham acesso a clareza, energia e direção renovadas. Compaixão e empatia consigo mesmos e com os outros melhoram também a capacidade de responder – não reagir no automático – de forma mais eficaz e saudável, gerando, assim, mais capacidade individual e coletiva de resolução de problemas, modelando resiliência e inteligência emocional para com as suas equipes.
Por fim, recarregar a sua bateria emocional e cognitiva é um elemento fundamental para a melhorar a capacidade de lidar com o dia a dia. Cabe a cada um perceber o que funciona melhor para si, já que, tal qual um celular ou um computador que perdem energia ao longo do dia e necessitam de carga, não é qualquer carregador ou cabo que funciona. Criar rituais diários e semanais de desconexão do trabalho, relaxamento, conexão com pessoas que amam, fazer atividades físicas ou hobbies e, sobretudo, proteger estes momentos, escolhendo mais conscientemente os “sims” e os “nãos” que são falados.
O mundo não é o mesmo do século passado. Se você, que é líder, pensa que não tem tempo para pausar e se cuidar, pense de novo!
Investir em refletir sobre suas experiências, reformular suas perspectivas e se recarregar não são só importantes no curto prazo, para evitar doenças, ansiedade, depressão e burnout, mas também apoiam o desenvolvimento do músculo emocional, a boa-forma mental necessária para lidar com os desafios futuros, apoiando a sua organização, sua equipe, você e sua família.