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O que a suspensão de projetos eólicos nos EUA podem significar para o mercado de energia global

Parque eólico onshore Serra da Babilônia 1, no estado da Bahia e liderado pela Equinor Brasil. (Foto: Mats Mowinckel Giovannoni / Equinor)
Uma moratória de aprovações de novos projetos já estava em vigor desde o início do novo governo, mas agora os projetos em andamento e já aprovados também são atingidos, gerando pânico entre os investidores do setor

A decisão do governo dos Estados Unidos de suspender projetos de energia eólica offshore está provocando uma onda de incertezas no setor de energia limpa e colocando em xeque bilhões de dólares já investidos. A medida, que inicialmente se limitava à moratória de novas aprovações, agora afeta diretamente empreendimentos em fase avançada de construção — incluindo o Revolution Wind, projeto de US$ 6,2 bilhões na costa de Rhode Island.

A principal atingida é a dinamarquesa Orsted, uma das líderes globais em energia eólica offshore e que já declarou intenção de investir em projetos também no Brasil. A empresa viu suas ações despencarem mais de 16% nesta semana, atingindo mínimas históricas na bolsa de Copenhague. A queda se soma a uma retração anterior de 31% acumulada nas últimas semanas, refletindo o impacto das decisões políticas e econômicas nos EUA.

O golpe mais recente veio com a ordem do governo federal para interromper as obras do Revolution Wind, uma joint venture entre a Orsted e a Skyborn Renewables, do portfólio da BlackRock

O projeto, que estava 80% concluído e prometia abastecer 350 mil residências em Rhode Island e Connecticut, foi suspenso sob justificativas genéricas de “proteção ambiental” e “segurança nacional”, segundo comunicado do Departamento de Gestão de Energia Oceânica.


Mercado em alerta

A suspensão do Revolution Wind se soma à dificuldade da Orsted em vender participação no projeto Sunrise Wind, também na costa leste americana. Sem conseguir atrair investidores, a empresa anunciou que precisará levantar cerca de US$ 9,4 bilhões por meio de emissão de ações — uma medida emergencial para manter suas operações.

O desafio da empresa agora é definir sobre como enfrentar um grande dilema: abandonar os projetos significaria perdas bilionárias e multas contratuais, mas seguir investindo em um cenário político adverso pode ser ainda mais arriscado.


Impacto sistêmico

Além da Orsted, outras gigantes do setor também sentem os reflexos. A Equinor, da Noruega, que no Brasil atua em projetos implantados na Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará, precisou negociar diretamente com a governadora de Nova York, Kathy Hochul, para reverter a suspensão do projeto Empire Wind. Mesmo com a retomada, a empresa reduziu quase US$ 1 bilhão em valor devido aos atrasos.

A onda de hostilidades do governo americano se iniciou com a declaração, por meio do Departamento do Interior, de que o governo está “encerrando o tratamento especial para fontes de energia não confiáveis, como a eólica”. 

A afirmação reforça o ceticismo da atual administração em relação às energias renováveis, e levanta dúvidas sobre o futuro de uma indústria que vinha crescendo com apoio público e privado.


O futuro da energia limpa nos EUA

A crise expõe uma mudança de postura que pode comprometer a transição energética no país. Tarifas sobre equipamentos importados, como turbinas, somam-se às restrições territoriais e à instabilidade regulatória, tornando os projetos menos viáveis economicamente.

Enquanto empresas como Orsted tentam manter seus compromissos e buscar alternativas jurídicas para seguir com os projetos, investidores observam com cautela. O setor de energia limpa, que antes era visto como promissor nos EUA, agora enfrenta um cenário de retração e incerteza — com impactos que podem ir além das fronteiras americanas.


Vento como matriz energética

Apesar da desconfiança anunciada pelo governo americano sobre a energia eólica, a tecnologia tem se consolidado como uma das principais fontes de energia renovável, impulsionada pela crescente busca por alternativas sustentáveis aos combustíveis fósseis. Sua produção, no entanto, apresenta um cenário de pontos fortes e fracos, com a matriz se destacando em diferentes partes do mundo.

A principal vantagem da energia eólica é sua natureza limpa e renovável. Diferente das usinas termelétricas, a geração eólica não emite gases de efeito estufa nem outros poluentes atmosféricos durante a operação, o que contribui diretamente para o combate às mudanças climáticas. Além disso, a fonte é abundante em muitas regiões, e o custo da tecnologia tem diminuído significativamente nas últimas décadas.

No entanto, a produção de energia eólica também enfrenta desafios. A intermitência é um dos principais pontos fracos; a geração depende da disponibilidade do vento, que pode variar e não ser constante. 

Isso exige a implementação de sistemas de armazenamento de energia ou o uso de outras fontes para garantir um fornecimento estável. A instalação de parques eólicos, especialmente os offshore, podem também ter um alto custo inicial. 

Outra questão é o impacto ambiental e visual das grandes turbinas, que podem afetar a vida selvagem, especialmente aves e morcegos, e gerar reclamações estéticas em algumas comunidades, que passam a ter sua paisagem dominada pelas imensas turbinas giratórias.


Destaques globais

A Europa tem sido pioneira na adoção da energia eólica, com a Dinamarca se destacando como líder. A Orsted, responsável pelo projeto paralisado nos EUA, é uma grande desenvolvedora dinamarquesa de energia renovável, por exemplo, é a líder no desenvolvimento de parques eólicos offshore no continente.

A China também emergiu como um dos maiores produtores de energia eólica do mundo, com investimentos maciços em capacidade instalada. O país tem uma meta ambiciosa de diversificar sua matriz energética e reduzir a dependência do carvão, e a energia eólica tem um papel crucial nesse plano. 

No Brasil, o Nordeste tem se destacado como a principal região de produção eólica, graças aos ventos fortes e constantes, o que tem atraído investimentos significativos para o setor.


Em resumo, o que aconteceu

O governo dos Estados Unidos decretou uma moratória de aprovações para projetos de energia limpa e, mais recentemente, paralisou projetos já aprovados e em andamento. A suspensão ocorre sob as justificativas de “proteção ambiental” e “segurança nacional”. A empresa Orsted, principal afetada, viu suas ações caírem drasticamente e agora busca levantar US$ 9,4 bilhões por meio de uma oferta de ações para fortalecer suas finanças. O Departamento do Interior declarou que o governo está “encerrando o tratamento especial para fontes de energia não confiáveis, como a eólica”.


Por que importa aos investidores

A incerteza gerada pelas ações do governo dos EUA vai além de um setor específico, abalando a confiança geral no ambiente de investimentos do país. A decisão de suspender projetos bilionários já em andamento, como o Revolution Wind, demonstra que a segurança dos investimentos não pode mais ser garantida, mesmo após a aprovação regulatória. 

Para os investidores, essa volatilidade é um risco sistêmico que pode afetar outros setores, já que as decisões parecem depender de fatores políticos momentâneos, e não de um arcabouço legal consolidado. A crise expõe uma mudança de postura que também pode comprometer a transição energética no país, já que restrições territoriais, tarifas sobre equipamentos importados e instabilidade regulatória tornam os projetos menos viáveis economicamente.


A quem impacta as medidas anunciadas

As medidas afetam diretamente empresas especializadas, mas também impactam todo o setor de energia limpa, que antes era visto como um dos mais promissores do mundo, e agora enfrenta um cenário de retração e incerteza. A decisão do governo americano pode ter impactos que vão também além das fronteiras dos EUA, afetando o cenário global de energia renovável.


Checklist de ações para investidores

  • Reavaliar os riscos regulatórios e políticos: Analise a estabilidade das políticas governamentais antes de investir em grandes projetos de infraestrutura, especialmente em setores sensíveis como energia.
  • Diversificar o portfólio geograficamente: A dependência de um único mercado pode aumentar a exposição a riscos regulatórios. A diversificação para mercados com políticas mais estáveis e de apoio, como alguns países da Europa ou do Brasil, pode ser uma estratégia prudente.
  • Monitorar o ambiente político: Acompanhe de perto as declarações e as ações dos governos, pois elas podem sinalizar mudanças que afetam diretamente seus investimentos.
  • Buscar clareza contratual: Assegure que os contratos incluam cláusulas de proteção contra mudanças inesperadas na regulamentação, garantindo que o investimento seja protegido de decisões governamentais arbitrárias.


Análise GZM

A incerteza gerada pela moratória e paralisação de projetos de energia limpa vai além de afetar apenas um setor. O ambiente de investimentos nos EUA, que por décadas foi considerado um porto seguro para capital estrangeiro, está agora mergulhado em um cenário de imprevisibilidade. Medidas governamentais, antes pautadas por um arcabouço legal e regulatório bem consolidado, agora parecem arbitrárias e dependem de decisões políticas momentâneas.

Para os investidores, a grande preocupação não é apenas o risco inerente aos projetos de energia limpa, mas a possibilidade de que essa mesma lógica se aplique a outros setores. A pergunta que ecoa nos mercados passou a ser: qual será a próxima vítima? 

O capital, como todos sabem, busca segurança, previsibilidade e um retorno razoável, e quando o governo de uma das maiores economias do mundo sinaliza que pode paralisar projetos de bilhões de dólares já aprovados, a confiança é abalada. 

Isso não compromete apenas a transição energética global, mas também o próprio tecido do ambiente de negócios americano, que, de um momento para outro, se torna menos atraente para investidores que agora temem que seus projetos, não importando a solidez, possam ser suspensos a qualquer momento. 

E os bons ventos dos investimentos privados podem desviar sua direção.

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