[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS].
Depois de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ter promovido sete altas seguidas dos juros e manter a taxa nas duas últimas reuniões, cresceu a expectativa do mercado pelo início dos cortes. O ex-presidente do BC Gustavo Franco (que comandou a autarquia entre 20 de agosto de 1997 até 4 de março de 1999), no entanto, aponta a possibilidade de a autoridade monetária ir além dos atuais 15% ao ano, a maior taxa desde 2006. “Hoje, 15% atende simultaneamente o objetivo de manter o sistema de metas e de rolagem da dívida”, afirmou. “Tomara que não precise subir”, disse, no encerramento do 8º Encontro Nacional da Associação Brasileira das Entidades em Fundos de Investimento em Direitos Creditórios Multicedentes e Multissacados (Anfidc), em São Paulo, com recorde de 1,2 mil participantes. Ele citou a dívida pública como argumento. “Numa situação fiscal que a gente está, gastos públicos por imperativos eleitorais e pleno emprego, tenho medo de o BC ficar em uma sinuca.”
O ex-presidente do BC disse estar “muito assustado com o panorama fiscal brasileiro”. A dívida pública, lembrou, está em R$ 8,2 trilhões, ou pouco mais de R$ 30 mil para cada brasileiro. Segundo relatório da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) divulgado no final de setembro, o estoque da Dívida Pública Federal (DPF) fechou o mês anterior em R$ 8,145 trilhões, com alta nominal de 1,59% ante julho. “O Estado vai gastando, e daqui a pouco vão ser R$ 15 trilhões”, afirmou Franco. Sobre os juros, ele disse ser necessário convencer o mundo político de que “déficits públicos recorrentes geram inflação”. E sobre os fundamentos da economia, o economista disse que essa pergunta precisa ser feita à Fazenda, não ao Banco Central. “O maior endividado do país está em Brasília. É o governo.”
Para ele, se em outros tempos a inflação era “o grande inimigo”, agora esse papel cabe à dívida pública, “que é inimiga dos juros”. Ainda assim, o governo “antecipa” a riqueza que virá, como cabe ao chamado “país do futuro”, e continua a se endividar. “A postura do governo está errada e precisa mudar”, afirmou. A saída, afirmou o ex-presidente do BC e sócio fundador da Rio Bravo Investimentos, é equilíbrio orçamentário. “O superávit primário é como o Ebitda das empresas. É geração de caixa.” E emendou: “Se a gente começar a achar que o arcabouço é ruim, que é pouco, não sabemos o que pode vir no lugar. É melhor deixar quieto”.
Ele defendeu o papel institucional da autoridade monetária. “O Banco Central tem sido uma âncora de tranquilidade para o país”, disse, classificando o BC como uma espécie de “continuação do plano de estabilização”, o Real, implementado em 1994. Franco apoiou também a chamada independência da entidade. “O arcabouço da independência está sendo aperfeiçoado, com o tempo, na direção correta.” No campo político, disse desejar um processo eleitoral sem o atual (Luiz Inácio Lula da Silva) e sem o ex-presidente (Jair Bolsonaro). “A discussão está no meio.”
No início de sua fala, contou uma história sobre as origens do Plano Real. Que começa em maio de 1993, quando Fernando Henrique Cardoso foi nomeado ministro da Fazenda de Itamar Franco. Seria o quarto nessa função – os outros, segundo ele, duraram em média 70 dias. No primeiro dia de trabalho, Franco, FHC e o economista Winston Fritsch, outro idealizador do plano, chegaram ao ministério e foram cercados por grevistas do Tesouro. Conseguiram entrar graças à intervenção do então secretário Murilo Portugal. Já no elevador privativo, o ascensorista olhou para Fernando Henrique e perguntou: “Qual andar?” Foi o servidor que informou ao novo ministro onde ficava o gabinete. Onze meses depois, em abril de 1994, com a economia começando a se estabilizar, FHC tornou-se candidato a presidente da República, no momento em que Lula liderava com folga todas as pesquisas. O tucano ganhou no primeiro turno. “Em 11 meses, tudo pode mudar.”
O encontro nacional da Anfidc foi aberto pelo o ex-ministro da Economia Paulo Guedes (2019-2022). Para ele, o principal fator eleitoral será a segurança. “Nacional, econômica e das famílias.”
Reportagem de Vitor Nuzzi