A chamada Super-Quarta é um evento de alta relevância para o mercado financeiro, marcado pela divulgação simultânea das decisões de política monetária dos dois principais bancos centrais do mundo: o Banco Central do Brasil (Copom) e o Federal Reserve dos Estados Unidos (FOMC). Nessas datas, são anunciadas as novas taxas de juros de cada país, o que pode provocar fortes oscilações nos mercados de câmbio, renda fixa e ações.
A importância da Super-Quarta está no impacto direto que essas decisões têm sobre o fluxo de capitais internacionais. Por exemplo, um aumento nos juros americanos pode atrair investidores para os EUA, pressionando o dólar e enfraquecendo moedas emergentes como o real brasileiro. Já no Brasil, mudanças na taxa Selic influenciam o custo do crédito, a inflação e o ritmo da atividade econômica.
Por tudo isso, na próxima semana, quando acontecerá novamente uma Super-Quarta, investidores, empresas e analistas acompanharão atentamente os comunicados dos bancos centrais com as medidas que devem sinalizar os rumos da economia nos meses seguintes.
Para antecipar algumas reflexões sobre este evento, confira a seguir, comentários de Mariana Pulegio, sócia da WIT Invest, sobre os principais impactos e o que esperar desta convergência de pronunciamentos:
Classes de ativos podem se beneficiar ou sofrer mais com os desdobramentos desta Super Quarta
Mariana Pulegio: Falando da renda fixa, se o Copom mantiver a Selic estável (em torno de 15 %), os títulos pré-fixados e atrelados à inflação podem continuar pagando bem, mas a reação vai depender do comunicado e viés, que ainda pode ser sinalizado como hawkish. Na renda variável, cenários os cortes de juros geralmente favorecem ações, especialmente setores sensíveis à taxa de desconto como bancos, varejo e consumo, porém, como a expectativa ainda é de manutenção, esse cenário é incerto. Já falando de dólar, cortes no Fed tendem a enfraquecer o dólar, portanto o real pode se valorizar. Ao contrário, manutenção ou alta dos juros nos EUA pode fortalecer o dólar.
Sobre as expectativas para a decisão do Copom e qual seria o impacto de cada cenário
Mariana Pulegio: Em geral, é a manutenção da Selic em 15% ao ano. O cenário de inflação ainda exige cuidado, e muitos analistas apontam para estabilidade na taxa. Sinal mais “hawkish” (duro) pode manter a confiança do mercado na âncora da política monetária, mas limita os estímulos à economia. Caso o Copom sinalize diminuição (o que o mercado não espera) geraria euforia no mercado, valorização dos ativos de risco, quebra de expectativas de controle e, consequentemente, a curva de juros e o câmbio reagiriam com forte volatilidade.
Quanto ao Fed, se há espaço para corte de juros
Mariana Pulegio: Grande consenso aponta para queda de 25 bps, com uma fatia menor imaginando até 50 bps. Alguns analistas apontam que um corte de 25 bps já está praticamente precificado. 50 bps é possível, mas menos provável. A continuidade de cortes nos próximos meses também está no radar.
Sobre como as decisões de Copom e Fed, em conjunto, podem influenciar o câmbio
Mariana Pulegio: Se o Copom mantiver os juros e o Fed cortar, o real tende a se valorizar com maior fluxo para ativos brasileiros. Se ambos mantiverem, o dólar pode seguir mais estável, ainda que fatores domésticos, como o fiscal, pesem. Já um corte do Copom combinado com estabilidade nos EUA reduziria o diferencial de juros, enfraquecendo o real e gerando maior volatilidade no câmbio.
Possível reação da bolsa brasileira após a Super Quarta
Mariana Pulegio: A reação deve acompanhar a combinação de decisões. Se o Fed cortar e o Copom mantiver, o Ibovespa pode reagir positivamente, com fluxo para ativos de risco e setores cíclicos. Caso ambos sinalizem estabilidade, a bolsa tende a mostrar movimentos mais moderados, ajustando posições de curto prazo. O histórico recente mostra que qualquer indicação de afrouxamento monetário nos EUA já tem sustentado altas na bolsa brasileira.
Sobre se investidores devem esperar maior volatilidade nos dias seguintes
Mariana Pulegio: Sim. A Super Quarta, por reunir decisões de dois dos principais bancos centrais do mundo, naturalmente amplia a oscilação dos mercados. Nos dias seguintes, a volatilidade deve se manter elevada, tanto por ajustes de portfólio quanto pela leitura mais fina dos comunicados oficiais.
Caso haja corte de juros no Brasil, se isso pode atrair fluxo para renda variável no curto prazo
Mariana Pulegio: Um corte da Selic teria esse efeito imediato, reduzindo a atratividade relativa da renda fixa e incentivando a busca por retorno em ações e fundos mais arrojados. Esse movimento, contudo, dependeria da leitura do mercado quanto à sustentabilidade fiscal e à percepção de credibilidade da política monetária, mas o impacto inicial seria sim positivo para a renda variável.