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Trilhão em ativos, milhões em impacto: previdência complementar ganha força e pode redefinir o modelo social brasileiro

Imagem da edição de 2024 do Congresso promovido anualmente pela Abrapp. Edição 2025 será realizada entre 22 e 24 de outubro, em São Paulo
Com rentabilidade acima da meta e ativos equivalentes a 11% do PIB, sistema fechado reforça papel estratégico diante dos limites da Previdência Social

Em meio aos desafios de sustentabilidade da Previdência Social brasileira, o sistema de Previdência Complementar Fechada (EFPC) tem se consolidado como um dos principais pilares da poupança de longo prazo no país. No primeiro semestre de 2025, o setor registrou rentabilidade média de 6,48% — superando a meta atuarial de 5,1% e os principais índices de referência, como o CDI (6,27%) e o Ibovespa (6,01%). Os ativos totais ultrapassaram R$ 1,33 trilhão, o equivalente a 11% do PIB nacional.

Esse desempenho reforça a importância da previdência complementar como alternativa diante das limitações do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), que enfrenta pressão fiscal crescente e desafios demográficos. Enquanto o RGPS garante uma cobertura básica, especialmente para trabalhadores da iniciativa privada, a previdência complementar oferece segurança adicional e contribui diretamente para o financiamento da economia.

“Mais do que proteger aposentadorias, as EFPCs são investidores de longo prazo e desempenham um papel essencial na formação da poupança nacional”, afirma Devanir Silva, diretor-presidente da Abrapp.

Mesmo em um cenário econômico desafiador, o sistema manteve equilíbrio financeiro, reduzindo o déficit líquido de R$ 8,9 bilhões em dezembro de 2024 para R$ 5,9 bilhões no primeiro semestre de 2025. A carteira de investimentos segue conservadora, com 84,4% em renda fixa — especialmente títulos públicos — e apenas 8% em renda variável, refletindo cautela diante da volatilidade dos mercados.

A projeção de rentabilidade anual para 2025 varia entre 12% e 15%, dependendo do desempenho da bolsa. No cenário otimista, com Ibovespa acima de 168 mil pontos, a rentabilidade pode chegar a 15,32%.

Diversificação e impacto econômico

As EFPCs vêm ampliando sua atuação em áreas estratégicas como infraestrutura, inovação, economia real, ESG e agronegócio. Essa diversificação reforça o papel do setor como motor de investimento e desenvolvimento regional.

“As EFPCs não são apenas guardiãs da poupança previdenciária, mas motores de investimento capazes de impulsionar o crescimento econômico sustentável do país”, acrescenta Devanir.

Inclusão e expansão com Planos Família e Setoriais

O sistema também avança na democratização do acesso à previdência complementar. Os Planos Família e Setoriais já somam R$ 2,8 bilhões em ativos e 137 mil participantes, ampliando a cobertura para públicos antes não atendidos pelas entidades tradicionais.

“Nosso compromisso é seguir ampliando o acesso à previdência complementar, incentivando a educação financeira e fortalecendo a agenda de investimentos sustentáveis e de longo prazo”, conclui Devanir.

Entidades fechadas já desafiam bancos na previdência privada 

No campo da oferta de planos e soluções de previdência, enquanto os grandes bancos mantêm a liderança em volume de ativos, uma transformação silenciosa começa a alterar a lógica do setor. As Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs), especialmente aquelas com planos instituídos, vêm ganhando espaço com propostas mais acessíveis, taxas reduzidas e foco em sustentabilidade de longo prazo.

Segundo dados do Ministério da Previdência, em 2024, das cerca de R$ 98 bilhões pagos em benefícios pela previdência complementar, 95% foram desembolsados por EFPCs — evidência de que, embora menores em patrimônio, essas entidades são protagonistas na entrega de aposentadorias.

Um dos exemplos dessa virada é a Quanta Previdência, com sede em Florianópolis. A entidade registrou crescimento de 16,33% em patrimônio em 2024, mais que o dobro da média das EFPCs (1,56%) e superior ao desempenho da previdência privada como um todo (7,3%). Com R$ 7,12 bilhões sob gestão, a Quanta ocupa hoje a 38ª posição no ranking geral por patrimônio.

Enquanto os planos abertos dos bancos operam com taxas médias de 1,3% ao ano, a Quanta, como exemplo, oferece planos com custos entre 0,25% e 0,48%. “A eficiência do modelo está na robustez da gestão de investimentos e no compromisso com o futuro dos participantes, o que permite ganhos de escala e políticas alinhadas ao interesse coletivo, não ao lucro”, afirma Denise Maidanchen, CEO da Quanta Previdência e vice-diretora da Abrapp.

A entidade já soma 214 mil participantes ativos e 1.140 beneficiários em recebimento, operando planos como o Precaver (Unicred), Prevcoop (Sistema Ailos) e Cooprev (associações e empresas). A capilaridade do cooperativismo tem sido um dos motores do crescimento.

Denise Maidanchen, CEO da Quanta Previdência: ““A Quanta conta, há alguns anos, com um fundo exclusivo de investimentos no exterior, cuja estratégia tem como principal objetivo diversificar e melhorar a correlação com os ativos locais, contribuindo de forma relevante para a composição dos perfis de investimento“.

Desafios atuais da Previdência Social no Brasil

A Previdência Social brasileira, gerida pelo INSS, enfrenta uma série de desafios estruturais que impactam sua sustentabilidade e capacidade de garantir proteção adequada aos trabalhadores. Esses obstáculos têm estimulado o crescimento da Previdência Complementar como alternativa para assegurar renda futura.

1. Envelhecimento populacional: O Brasil está envelhecendo rapidamente. Segundo o IBGE, a proporção de idosos deve dobrar até 2040, passando de 15% para mais de 30% da população. Isso pressiona o sistema previdenciário, que depende da contribuição dos trabalhadores ativos para pagar os benefícios dos aposentados.

2. Déficit fiscal crescente: O Regime Geral da Previdência Social (RGPS) representa cerca de 40% das despesas primárias do governo federal. Em 2024, o déficit previdenciário ultrapassou R$ 300 bilhões, exigindo ajustes fiscais e reformas para manter o equilíbrio das contas públicas.

3. Informalidade no mercado de trabalho: Mais de 40% dos trabalhadores brasileiros atuam na informalidade, segundo dados do IBGE. Isso reduz a base de arrecadação do INSS e compromete a cobertura previdenciária, deixando milhões de pessoas sem proteção social adequada.

4. Baixa educação previdenciária: A falta de conhecimento sobre planejamento de aposentadoria e os direitos previdenciários limita o engajamento da população com o sistema. Muitos brasileiros não compreendem os impactos das reformas recentes ou a importância de complementar sua renda futura.

5. Limite de benefícios: O teto do INSS, atualmente em torno de R$ 7.786,02, não atende às expectativas de renda de muitos profissionais, especialmente os de maior qualificação. Isso torna a Previdência Complementar uma alternativa necessária para manter o padrão de vida após a aposentadoria.

Esses desafios reforçam a importância de ampliar o acesso à educação financeira e previdenciária, incentivar a formalização do trabalho e promover soluções complementares que garantam segurança e estabilidade no longo prazo. A integração entre os regimes públicos e complementares será essencial para enfrentar os impactos da transição demográfica e econômica do país.

Previdência complementar no mundo: modelos e aprendizados para o Brasil

A previdência complementar é uma realidade consolidada em diversos países, com modelos variados que refletem suas estruturas econômicas, demográficas e culturais. Comparar o sistema brasileiro com experiências internacionais ajuda a entender os caminhos possíveis para ampliar a cobertura e a eficiência da proteção previdenciária.

No Brasil, a previdência complementar ainda tem cobertura limitada. As Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs) atendem cerca de 3 milhões de participantes, com ativos equivalentes a 11% do PIB. O modelo é voluntário e mais concentrado em grandes empresas e servidores públicos. Os Planos Família e Setoriais têm ampliado o acesso, mas o desafio é expandir a cultura previdenciária e a inclusão.

A GZM pesquisou o sistema previdenciário complementar em outros países, confira a seguir:

Estados Unidos: Nos EUA, o sistema é fortemente baseado em planos privados oferecidos por empregadores, como os famosos 401(k) e IRA (Individual Retirement Account). A adesão é voluntária, mas amplamente incentivada por benefícios fiscais. Cerca de 60% dos trabalhadores têm acesso a algum tipo de plano complementar, e os ativos somam mais de US$ 40 trilhões, segundo dados da OECD.

Canadá: O Canadá combina um sistema público universal com planos complementares obrigatórios para trabalhadores formais, como o CPP (Canada Pension Plan). Além disso, há incentivos para planos individuais e corporativos. A cobertura é ampla e o sistema é considerado um dos mais sustentáveis do mundo.

Reino Unido: O Reino Unido implementou o modelo de adesão automática (auto-enrolment) para trabalhadores, com possibilidade de saída voluntária. Desde sua adoção em 2012, a participação em planos complementares aumentou significativamente, ultrapassando 80% dos trabalhadores elegíveis. O sistema é gerido por entidades privadas com supervisão estatal.

Holanda: A Holanda é referência global em previdência complementar. Quase 90% da população ativa participa de planos ocupacionais obrigatórios, com gestão coletiva e forte regulação. Os fundos holandeses são conhecidos pela alta governança, solvência e foco em longo prazo.

Esses modelos mostram que incentivos fiscais, adesão automática, regulação eficiente e educação previdenciária são fatores-chave para o sucesso da previdência complementar. O Brasil avança, mas ainda tem espaço para ampliar cobertura, diversificar investimentos e integrar melhor os regimes públicos e privados.

Devanir Silva, diretor-presidente da Abrapp: “Nosso compromisso é seguir ampliando o acesso à previdência complementar, incentivando a educação financeira e fortalecendo a agenda de investimentos sustentáveis e de longo prazo”.

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