A EDP, multinacional que atua em todas as áreas do setor elétrico, venceu na última sexta-feira (3) a concorrência pelo Lote A da Celg Participações (CelgPar), em leilão realizado na B3, em São Paulo. O investimento de R$ 83,6 milhões garante à companhia 100% das ações da Firminópolis Transmissão e da Lago Azul Transmissão, que juntas somam 152 quilômetros de linhas de transmissão em Goiás. A Receita Anual Permitida (RAP) homologada para o ciclo 2025/2026 é de R$ 17,1 milhões.
Com essa aquisição, a EDP reforça sua presença no Arco Norte e amplia sua malha de transmissão no estado, onde já opera desde 2022, quando assumiu a gestão da Celg T por R$ 2,1 bilhões. O portfólio atual da empresa em Goiás inclui 756 quilômetros de linhas e 14 subestações, com previsão de mais de R$ 400 milhões em investimentos entre 2025 e 2027.
“A aquisição do Lote A está totalmente alinhada à nossa estratégia de crescimento em redes, pois nos permite ampliar investimentos em reforços e melhorias ao mesmo tempo em que potencializa sinergias com as nossas operações. Reforça, também, o nosso compromisso de entregar a Goiás uma rede de transmissão cada vez mais segura, robusta e preparada para o futuro”, afirmou Daniel Sarmento, vice-presidente de Transmissão da EDP na América do Sul.
Infraestrutura estratégica
O Lote A é composto por dois ativos: a Lago Azul Transmissão, com 69 quilômetros de linhas entre Barro Alto e Itapaci, no Vale do São Patrício; e a Firminópolis Transmissão, com 83 quilômetros entre Trindade e Firminópolis. Ambas as regiões são estratégicas para o escoamento da energia gerada no estado, especialmente diante da crescente demanda por fontes renováveis e da expansão da geração distribuída.
A EDP já iniciou obras de reforço e modernização em subestações localizadas na região metropolitana de Goiânia (Goiânia Leste, Xavantes, Anhanguera e Pirineus) e no norte do estado (Itapaci). Os projetos incluem instalação de teleproteção, alteamento de linhas, substituição de equipamentos e ampliação de capacidade. A partir de 2026, o foco será na digitalização das subestações e na criação de novos pontos de conexão, com ganhos em confiabilidade, segurança operacional e eficiência energética.
O redesenho do setor energético em Goiás
A movimentação da EDP ocorre em um momento de redesenho do setor energético goiano. O Estado se beneficia de uma matriz diversificada, com destaque para a geração hídrica e o crescimento acelerado da energia solar — tanto em grandes usinas quanto em geração distribuída, que permite a produção de energia em residências e empresas.
Na transmissão, Goiás é um ponto estratégico na rede nacional, com diversas empresas operando linhas e subestações que cruzam o estado. Além da EDP, atuam na região empresas como Energisa Goiás (EGO), Goiás Transmissão (MGE), Transenergia Goiás, Luziânia-Niquelândia Transmissora S.A., State Grid Brazil e a própria Lago Azul Transmissão, agora incorporada pela EDP.
A distribuição de energia, por sua vez, é concentrada na Equatorial Energia Goiás, antiga Celg D/Enel Goiás, que atende praticamente todo o estado e é responsável pelo contato direto com o consumidor final — incluindo leitura, cobrança e manutenção da rede de baixa e média tensão.
Geração em expansão
Na geração, Goiás abriga grandes usinas hidrelétricas operadas por empresas como Furnas (Eletrobras) e Cemig, além de centenas de empreendimentos de geração distribuída, especialmente solares. O estado tem se destacado como polo de inovação energética, com potencial para se tornar referência nacional em fontes renováveis.
Esse cenário favorece a atuação de empresas como a EDP, que têm apostado em sinergias entre geração renovável e transmissão eficiente. Desde 2017, a companhia já investiu mais de R$ 7 bilhões em projetos de transmissão em nove estados brasileiros, incluindo Goiás. No Leilão de Transmissão 01/2024, realizado pela Aneel, a EDP arrematou três lotes — 2, 7 e 13 — que estão em construção e adicionarão uma RAP de R$ 288,4 milhões ao portfólio, com 1.388 quilômetros de novas linhas e duas subestações em quatro estados: Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins.
Perspectivas para o futuro
Com a aquisição do Lote A e os investimentos previstos até 2027, a EDP consolida sua posição como uma das principais operadoras de transmissão em Goiás. A estratégia da empresa está alinhada com as tendências do setor, que apontam para maior digitalização, integração entre geração e transmissão, e foco em fontes limpas e sustentáveis.
O mercado de energia em Goiás segue em transformação, impulsionado por leilões regulados pela Aneel, pela entrada de novos players e pela modernização da infraestrutura. A presença de uma única grande distribuidora e de múltiplas transmissoras cria um ambiente competitivo e dinâmico, com potencial para atrair novos investimentos e ampliar a segurança energética do estado.
A vitória da EDP no leilão da CelgPar é mais um capítulo dessa reconfiguração, que coloca Goiás no centro das discussões sobre o futuro da energia no Brasil. Com uma matriz diversificada, localização estratégica e demanda crescente, o estado se posiciona como protagonista na transição energética nacional.