A China Evergrande, que já foi símbolo da expansão acelerada do setor imobiliário chinês, foi oficialmente retirada da Bolsa de Valores de Hong Kong em agosto de 2025. O encerramento da negociação de suas ações marca o desfecho de uma das maiores crises corporativas da história recente da China — e deixa para trás uma dívida colossal, milhares de projetos inacabados e uma fila de credores espalhados pelo mundo.
Fundada há mais de duas décadas, a Evergrande chegou a ser a incorporadora de crescimento mais rápido da China, surfando na onda de urbanização e crédito farto. Mas o modelo de expansão baseado em endividamento agressivo encontrou seu limite em 2021, quando a empresa acumulava mais de US$ 300 bilhões em dívidas. O colapso expôs a fragilidade do sistema financeiro chinês e a dependência do setor imobiliário como motor de crescimento.
A crise da Evergrande testou a política de “grande demais para falir” adotada por Pequim, que até então tolerava práticas financeiras arriscadas por parte de grandes conglomerados. A falência da empresa sinalizou uma mudança de postura do governo, que passou a priorizar estabilidade sistêmica e controle sobre o crédito.
Hoje, o que resta da Evergrande são 1.300 empreendimentos paralisados em mais de 280 cidades, centenas de milhares de compradores sem seus apartamentos e credores — de empresas locais a investidores internacionais — ainda esperando por reembolso. A juíza de Hong Kong responsável pelo caso nomeou a consultoria Alvarez & Marsal para conduzir a liquidação, a mesma empresa que atuou na dissolução do Lehman Brothers.
A tarefa, no entanto, é monumental. A estrutura da Evergrande envolve milhares de subsidiárias, e os liquidatários precisam assumir o controle de cada uma individualmente. Até agora, cerca de 100 empresas foram incorporadas ao processo, com ativos avaliados em US$ 3,5 bilhões. Mas apenas US$ 255 milhões foram recuperados para os credores — uma fração dos US$ 45 bilhões reivindicados.
Investigações e rastreamento de ativos
Além da liquidação, os executivos da Evergrande enfrentam investigações judiciais. O ex-presidente Hui Ka Yan foi detido em 2023 e multado em US$ 6,5 milhões por fraude. O ex-CEO Xia Haijun, também multado e banido dos mercados financeiros, é acusado de esconder US$ 24 milhões em ativos nos Estados Unidos, incluindo propriedades de luxo na Califórnia. Documentos judiciais revelam que sua esposa comprou uma mansão de US$ 14,5 milhões em Newport Beach meses antes das sanções.
As autoridades tentam recuperar cerca de US$ 6 bilhões em ativos que teriam sido desviados por executivos da empresa após sua abertura de capital. O processo, conduzido em Hong Kong, segue com audiências fechadas ao público.
O caso Evergrande é mais do que uma falência corporativa — é um retrato dos excessos de uma era marcada por crescimento desenfreado, crédito fácil e pouca supervisão. A implosão da empresa serve como alerta para os limites do modelo de desenvolvimento baseado em especulação imobiliária e endividamento.
Enquanto os credores aguardam por respostas e os compradores por seus imóveis, o terreno desolado onde se erguem prédios inacabados da Evergrande se torna um símbolo silencioso de um império que prometeu muito — e entregou pouco.