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Produtividade em colapso: como a saúde mental está desafiando as empresas e impactando vidas (e lucros)

Ação da campanha Setembro Amarelo, que marca o mês de destaque para a saúde mental e foco na prevenção de suicídio
Vulnerabilidade emocional, cultura corporativa e saúde integral são considerados os novos pilares da produtividade, enquanto pesquisa revela jovens em crise existencial e empresas despreparadas

No Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado em 10 de outubro, estudos e especialistas revelam um cenário preocupante: a Geração Z enfrenta uma crise de propósito e solidão, enquanto as empresas brasileiras ainda não estão preparadas para lidar com os riscos psicossociais que afetam seus colaboradores — especialmente os mais jovens.

Um levantamento da Harvard Graduate School of Education mostrou que 58% dos jovens adultos relataram sentir um “vazio existencial” no último mês. Já o World Happiness Report 2025 aponta que 19% não têm ninguém em quem confiar para obter apoio social. São dados que revelam um enigma: em meio à hiperconexão digital, a Geração Z vive uma epidemia de solidão e falta de sentido.

Renata Rivetti, especialista em bem-estar, alerta que a crise da solidão e da falta de propósito não pode mais ser ignorada. “Eles estão sofrendo e precisam do nosso apoio. Apenas exigir que enfrentem o mundo sem medo não resolve“.

E o desafio tem trazido também novas palavras ao vocabulário das empresas, como o “quiet quitting”, uma prática onde um funcionário entrega apenas o mínimo necessário para manter o emprego, sem ir além do escopo de seu contrato, como forma de preservar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e evitar o esgotamento. Em vez de se demitir, o profissional estabelece limites claros, não assume tarefas extras, não responde mensagens fora do horário e não se sobrecarrega, priorizando o bem-estar e a saúde mental.

E 2025, segundo um especialista, traz um conceito ainda mais alarmante: o quiet cracking, ou “rachadura silenciosa”. O termo, segundo Virgilio Marques dos Santos, da FM2S Educação e Consultoria, representa o ponto de ruptura emocional de profissionais que, após anos de sobrecarga e insegurança, chegam ao limite. “O quiet cracking não é mais uma escolha de desconexão. É o colapso que vem quando o elástico é esticado demais por tempo demais — e finalmente arrebenta”, explica Santos.

Entre os sintomas estão irritabilidade, crises de ansiedade, queda na qualidade das entregas e isolamento social. Nas equipes, surgem conflitos, clima tenso e comunicação passivo-agressiva.

Virgilio Marques dos Santos, da FM2S Educação e Consultoria: “Não dá mais para tratar o esgotamento como fragilidade pessoal. A rachadura é sistêmica”.

O impacto na produtividade e finanças

A Organização Mundial da Saúde, obviamente, também já se alertou sobre o problema e já publicou dados estimando que depressão e ansiedade geram perdas de US$ 1 trilhão por ano à economia global. No Brasil, os transtornos mentais já lideram os afastamentos: foram 472 mil benefícios concedidos em 2024, o maior número da última década.

Rodrigo Araújo, CEO da Global Work, afirma que investir em saúde ocupacional gera retorno financeiro mensurável. “Empresas que cuidam da saúde do colaborador reduzem absenteísmo e multiplicam de três a dez vezes o retorno sobre cada valor aplicado”, diz.

A Global Work, por exemplo, é uma das empresas que já desenvolveu um núcleo de gestão integrada com foco em absenteísmo, acompanhamento psicológico e reabilitação. A proposta inclui telemedicina, trilhas de desenvolvimento e protocolos de readaptação.

Rodrigo Araújo, CEO da Global Work: “Não se trata apenas de cumprir obrigações legais, mas de garantir sustentabilidade aos negócios. Empresas que cuidam da saúde mental de seus times eliminam tabus, constroem engajamento, reduzem custos invisíveis e fortalecem a produtividade. Essa é a verdadeira métrica de competitividade no mercado atual”.

Impacto emocional da tecnologia e do corpo

Outro fator que também tem sido apontado como impactante no cenário da saúde mental nas empresas é a transformação digital, que, apesar de seus benefícios, também pode gerar efeitos emocionais. Para a juíza federal do trabalho Taciela Cordeiro Cylleno, o avanço da inteligência artificial provoca “um medo silencioso de substituição”, que pode gerar ansiedade e insegurança sobre o próprio valor profissional. “A sensação de que a tecnologia avança mais rápido do que a capacidade humana de se adaptar cria uma vulnerabilidade emocional nova”, alerta.

Ela defende que a legislação trabalhista deve ser usada para preparar as pessoas para transitar ao lado da tecnologia, e não contra ela. “A saúde mental é o principal ativo do trabalhador, e sem ela não há performance sustentável. O equilíbrio entre produtividade e bem-estar não é uma utopia. É uma estratégia de futuro.”

Para a médica nutróloga Bruna Durelli, a saúde mental também passa pelo corpo, uma conexão fundamental e evidente que não pode ser desprezada: “A obesidade é uma condição inflamatória crônica que afeta o cérebro. Substâncias inflamatórias interferem na produção de serotonina e dopamina, fundamentais para o humor, o sono e a motivação”, diz ela se referindo às situações muito comuns de sobre-peso, além da própria obesidade.

Ela defende que tratar o corpo vai muito além da estética. “Quando o metabolismo volta a funcionar bem, há melhora na energia, na disposição, no sono e até na clareza mental. Isso impacta diretamente o bem-estar emocional e a autoestima.”

Entre as estratégias recomendadas estão alimentação com propósito, sono de qualidade, movimento diário, acompanhamento médico e gestão emocional com apoio terapêutico. “A chave está na consistência e no autocuidado, não na restrição.”

Caminhos para reconectar corpo, mente e vínculos

Apesar do cenário desafiador, as empresas já reconhecem o probema e estão buscando caminhos para soluções e opções tem surgido a todo momento, como a oferecida pela psicóloga Brunna Dolgosky, fundadora do Pintando o 7 Ateliê. Ela lembra que a arte é uma das formas mais potentes de expressão emocional. “Desde as cavernas, o ser humano já usava traços e símbolos para traduzir o que sentia. Essa necessidade ancestral de criar e simbolizar permanece em nós até hoje”.

Segundo ela, a arteterapia permite que conteúdos inconscientes encontrem forma, cor e movimento. “Ao pintar, desenhar ou modelar, acessamos áreas cerebrais ligadas às emoções e à memória afetiva. Isso favorece o equilíbrio emocional e a liberação de tensões internas”.

Brunna também ressalta o impacto da arte nos vínculos familiares. “Quando pais e filhos compartilham momentos artísticos, há uma mudança poderosa na qualidade da presença. Isso fortalece laços, reduz conflitos e constrói memórias afetivas que servem como base para a segurança emocional”.

Futuro do trabalho depende da saúde emocional

Reconhecido como um dos grandes desafios do século, a saúde emocional pede passagem nas agendas corporativas e, além das questões pessoais, já mostrou que balanços financeiros também estão em risco. E mais que isso, uma geração inteira parece estar “pedindo socorro”. E as empresas, se quiserem prosperar, precisam ouvir. 

Cuidar da saúde mental, por isso, não parece ser mais um diferencial e, sim, uma condição para a produtividade, a inovação e a sustentabilidade dos negócios. O mercado de trabalho do futuro, pelo que parece, será construído por quem souber equilibrar metas com humanidade.

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