Liderança: hábito ou dom natural?
Por Paulo Camargo, executivo, conselheiro de negócios, palestrante e ex-CEO de grandes empresas

Após uma década à frente de empresas como McDonald’s, Instituto Foodservice Brasil (IFB), Iron Mountain Espanha, Zamp e Espaçolaser, aprendi, muitas vezes na prática, a liderar equipes e formar times vitoriosos, não sem enfrentar grandes desafios. Talvez o maior deles tenha sido lidar com as minhas próprias expectativas sobre como um líder deve ser e agir.
Ao ocupar uma posição de liderança, dois sentimentos não podem acompanhar o líder nessa jornada: insegurança e insuficiência. Em vez disso, método, processo, disciplina, esforço e paixão por fazer acontecer devem compor o vocabulário e as atitudes de quem conduz um time. Liderar não é fácil, mas é plenamente possível de ser aprendido, em qualquer fase da carreira.
A liderança exige uma combinação de atributos como inteligência emocional, visão estratégica, capacidade de adaptação e foco em resultados. Comunicação eficaz, tomada de decisão, empatia, respeito e poder de motivar a equipe também são indispensáveis.
Uma das perguntas que mais me fazem é: “Liderança é um hábito ou um dom natural?”
Talvez seja um pouco dos dois. Mas se há uma certeza, é esta: ninguém lidera sozinho. Um líder só se torna líder quando conquista seu primeiro colaborador e seguidor. Até lá, ele é apenas mais uma pessoa com ideias, metas e desejos. E é justamente por depender de pessoas que a liderança se torna tão desafiadora, especialmente porque quem ocupa cargos de gestão, muitas vezes, evita pedir ajuda.
Mas um líder não precisa, nem deve, saber tudo. Ele é humano. Tem falhas, dúvidas, vulnerabilidades. Seu papel é montar um time inteligente, capaz de compensar suas lacunas e ampliar sua visão. Ser invulnerável não é ser forte, é ser inalcançável. E o inalcançável não se conecta.
Lembro quando me perguntavam qual era a principal tarefa que ocupava meu tempo como CEO do McDonald’s no Brasil. Minha resposta era simples: alinhar os valores dos 60 mil colaboradores com os valores da empresa. Porque pessoas alinhadas com a organização surpreendem de forma positiva, todos os dias.
O trabalho do líder não é ter todas as respostas. É guiar um time com alto conhecimento técnico para que, juntos, encontrem o caminho mais alinhado às metas da organização. Afinal, lideramos pessoas, e pessoas mudam. Se o líder se fecha, se cristaliza, ele se torna irrelevante diante da evolução à sua volta.
Liderar exige coragem, resiliência e abertura constante para novos desafios, inclusive aqueles para os quais ainda não estamos prontos. É por isso que liderança é uma habilidade a ser cultivada todos os dias.
Falhar? Todos falham. A diferença está em não se deixar definir pelas falhas, mas sim usá-las como combustível para melhorar.
Como disse Ronald Reagan: “O melhor líder não é necessariamente aquele que faz as melhores coisas, mas sim aquele que faz com que as pessoas realizem as melhores coisas.”