Mãos pro Futuro e a reciclagem que transforma
Projeto, que agrega setores e empresas, já destinou mais de 1 milhão de toneladas de resíduos pós-consumo para a reciclagem

No Dia Mundial da Reciclagem, celebrado em 17 de maio, o programa Mãos Pro Futuro reafirma seu compromisso com a logística reversa e a valorização da cadeia de reciclagem no país.
Criado em 2006 pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), a iniciativa já viabilizou a destinação adequada de mais de 1 milhão de toneladas de resíduos pós-consumo, beneficiando diretamente 6 mil profissionais da reciclagem, sendo 56% deles mulheres.
Segundo Fábio Brasiliano, Diretor de Desenvolvimento Sustentável da ABIHPEC, a reciclagem vai além do descarte correto: "Ela passa pela educação do consumidor, pelo fortalecimento de cooperativas e a construção de uma economia mais justa e circular." O programa reflete essa visão ao atuar em parceria com mais de 200 cooperativas espalhadas pelo país.
Entre 2013 e 2023, o Mãos Pro Futuro contribuiu para evitar a emissão de 3,8 milhões de toneladas de gases de efeito estufa, mostrando que a reciclagem não apenas reduz o volume de resíduos, mas também minimiza impactos ambientais.
A iniciativa foi reconhecida em 2025 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) como referência na economia circular na América Latina e Caribe. Além disso, em 2020 e 2021, foi selecionada pela Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL/ONU) como exemplo de projeto sustentável.
O Mãos Pro Futuro está presente em 156 cidades de 26 estados e no Distrito Federal, atuando em parceria com Abimapi, Abipla e Abrafati. Essa colaboração mostra como indústria, cooperativas e sociedade podem atuar de forma conjunta para fortalecer a reciclagem no país.
E para sabermos mais sobre as ações da ABIHPEC, conversamos com o Fábio Brasiliano, Diretor de Desenvolvimento Sustentável da ABIHPEC.
GMD: Quais são os principais avanços que o programa Mãos Pro Futuro alcançou ao longo dos anos na valorização da reciclagem e da logística reversa no Brasil?
Fábio: Criado em 2006 pela ABIHPEC, antes mesmo da publicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, o Mãos Pro Futuro desenvolve ações de logística reversa estruturantes por meio de parcerias com organizações de catadores de materiais recicláveis em todo o Brasil, proporcionando geração de trabalho, melhoria de renda e inclusão social.
Entre as inovações implementadas, o projeto tornou possível rastrear a destinação adequada das embalagens pós consumo, realiza investimentos em capacitação para melhor gestão das organizações de catadores de materiais recicláveis, além das ações de conscientização e sensibilização dos consumidores, garantindo educação ambiental para o público em geral.
Dado o seu pioneirismo, o modelo operacional do Mãos Pro Futuro foi utilizado como referência para as legislações em âmbito federal e estadual hoje vigentes. Em 2023, o Mãos Pro Futuro alcançou a marca de 1 milhão de toneladas de materiais pós-consumo recicláveis recuperados e destinados corretamente para a cadeia de reciclagem.
No início de 2025, a ABIHPEC foi reconhecida e habilitada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança de Clima (MMA) como entidade gestora de sistemas de logística reversa de embalagens em geral.
A entidade possui competência para coordenar e organizar sistemas de reciclagem de embalagens em todo o Brasil. Também recebeu o reconhecimento do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), como o maior projeto de logística reversa estruturante do Brasil.
Os avanços alcançados ao longo da trajetória do Programa Mãos Pro Futuro são resultados das ações de estruturação da base da cadeia da reciclagem – as organizações de catadores de materiais recicláveis, conduzidas pelo Programa, por meio da expansão da logística reversa, sensibilização da população para a
correta separação dos materiais após o seu uso/consumo doméstico, aprimoramento da eficácia e da estrutura produtiva dessas unidades de triagem, e garantia da transparência e da rastreabilidade dos resultados alcançados.
GMD: Apenas 3% dos resíduos são reciclados no país. Como o programa pode contribuir para aumentar esse percentual e incentivar a participação da sociedade e das empresas?
Fábio: O Mãos Pro Futuro atende 04 (quatro) setores da economia, em parceria com outras três entidades representativas: a Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães; Bolos Industrializados), a Abipla (Associação Brasileira da Indústria de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes) e a Abrafati (Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas), contribuindo com o fortalecimento da cadeia da reciclagem no Brasil e reunindo cerca de 200 empresas aderentes destes setores. Juntas, as quatro entidades representativas e suas respectivas empresas comprometem-se a subsidiar os investimentos necessários para:
- Estruturar: garantir uma infraestrutura adequada para as cooperativas participantes do programa, por meio de adequações nos galpões, da aquisição de máquinas, caminhões e outros equipamentos, conforme as necessidades detectadas no diagnóstico;
- Capacitar: realizar o acompanhamento técnico e prover assessoria especializada para as cooperativas de catadores de materiais recicláveis;
- Engajar: conscientizar e incentivar a população sobre a correta separação e entrega dos materiais recicláveis para a coleta seletiva.
Com uma atuação que abrange todas as regiões do país, o Programa é um exemplo de como o setor produtivo, as cooperativas e a sociedade podem atuar de forma conjunta e socialmente responsável para o fortalecimento da cadeia de reciclagem no país.
GMD: O Programa Mãos Pro Futuro impactou diretamente milhares de profissionais da reciclagem, sendo 56% mulheres. Como a inclusão e o fortalecimento das cooperativas ajudam na construção de uma economia mais circular e justa?
Fábio: O programa fortalece e formaliza a cadeia de reciclagem, que hoje protagoniza um elo de suprimentos importante para uma transição eficiente em prol da Economia Circular. Já no plano social, valoriza e empodera os trabalhadores da reciclagem, a fim de que essa nova economia, além de prezar pela circularidade de nossos recursos naturais, seja também mais inclusiva, aliando impacto ambiental a impacto social.
A realidade brasileira, com a presença massiva das associações e cooperativas de catadores, já possui uma tecnologia social que deve ser estimulada e cada vez mais profissionalizada, resultando numa solução para três problemas globais: a adequada gestão de resíduos; a inclusão social no mercado formal de uma mão de obra que possui a experiência neste manejo, mas que ainda em algumas regiões se encontra precarizada; e a viabilidade econômica.
É impossível dissociar a reciclagem e o avanço dos índices de reciclagem no Brasil do trabalho de catadores e catadoras, organizados em associações e cooperativas.
GMD: A reciclagem também tem um impacto ambiental significativo, como a redução da emissão de gases de efeito estufa. Quais são as metas futuras do programa para ampliar esse impacto positivo?
Fábio: O Mãos Pro Futuro acompanha as metas estabelecidas pelos governos federal e estaduais, que atingirão (conforme o Plano Nacional de Resíduos Sólidos – PLANARES) a recuperação de 50% dos resíduos colocados no mercado pelas empresas em 2040. O Mãos Pro Futuro seguirá crescendo em resultados e parcerias para garantir o cumprimento da legislação.
Importante mencionar que estes desafios de crescimento, para além das metas regulatórias, também considera o crescimento anual do consumo da população e os desafios do descarte ambientalmente adequado destes resíduos após o seu consumo nas cidades brasileiras, algumas ainda sem coleta seletiva implementada, e em alguns casos com lixões irregulares ainda em operação.
O Mãos Pro Futuro possui ainda uma metodologia para cálculo das emissões de gases de efeito estufa evitados pela logística reversa estruturante, além de monitorar os impactos dos eventos climáticos extremos nas cooperativas parceiras do Programa.
Conforme a economia avança e o consumo cresce, o Mãos Pro Futuro garante a destinação adequada dos resíduos e conecta a agenda de economia circular à agenda de descarbonização da economia.
GMD: O reconhecimento do programa por entidades nacionais e internacionais destaca sua relevância no cenário global. Como a ABIHPEC pretende expandir o projeto e fortalecer ainda mais a economia circular no Brasil?
Fábio: O Mãos Pro Futuro tem buscado expandir sua rede de atendimento e impacto em todo o Brasil: seja por meio da construção de novas parcerias com organizações de catadores, bem como por meio do atendimento a outros setores da economia - a exemplo da Abrafati, que se juntou ao Mãos Pro Futuro em março de 2025.
Para mais informações, acesse: www.abihpec.org.br.