O Estado Brasileiro é como um Bebê Reborn: Caro e Sem Vida
Por André Charone é contador, professor universitário

Os bebês reborn são obras de arte. Feitos à mão, com riqueza de detalhes, pele realista, cheirinho de talco, roupinhas importadas. Custa caro, exige cuidados, mas no fundo, não choram, não crescem e não têm vida. Uma ilusão bem-produzida.
Assim é o Estado brasileiro. Uma estrutura maquiada para parecer eficiente, inclusiva e próspera. Mas, por dentro, o que temos é um simulacro de funcionamento: burocrático, ineficiente, disfuncional. A cada nova eleição, troca-se a roupinha, dá-se um nome novo ao boneco, mas o “bebê” continua sem vida própria, mantido artificialmente às custas do sacrifício dos contribuintes.
1. Custa caro e não entrega nada
Assim como um bebê reborn pode custar R$ 2.000, R$ 5.000 ou até R$ 10.000, o Estado brasileiro custa mais de R$ 3 trilhões por ano, só em arrecadação tributária. Em troca, o brasileiro enfrenta filas no SUS, insegurança nas ruas, escolas públicas sem estrutura e serviços que parecem um brinquedo quebrado.
Segundo o IBGE, em 2024, mais de 62 milhões de brasileiros viviam em situação de insegurança alimentar. E isso em um país que gasta quase 35% do PIB com carga tributária maior que a média da OCDE.
2. Bonito na propaganda, mas irreal no dia a dia
A propaganda estatal é impecável: programas sociais anunciados com pompa, promessas de inclusão, campanhas de marketing com slogans cativantes. Mas na prática, a máquina pública é lenta, inchada e majoritariamente voltada para manter privilégios corporativos.
Como o bebê reborn nas vitrines, o Estado é feito para parecer perfeito. Só quem convive de verdade com ele, empresários, microempreendedores, professores da rede pública, servidores de base, percebe o quanto ele é inerte.
3. Precisa de cuidados diários... e quem cuida é o contribuinte
Assim como o bebê reborn precisa ser limpo, vestido, alimentado, ainda que não tenha necessidades reais, o Estado brasileiro exige atenção constante: renovações, declarações, licenças, autorizações, guias de recolhimento, obrigações acessórias... Uma burocracia que engole mais de 1.500 horas por ano só para se pagar tributos, segundo o Banco Mundial.
Quem sustenta tudo isso? O trabalhador, o empresário, o autônomo que são tratados como culpados até que provem o contrário.
4. Não tem autonomia: depende da "boa vontade" de quem o manipula
O bebê reborn só se move quando alguém o carrega. O Estado brasileiro também. Depende do Congresso, do Judiciário, de coalizões, de interesses. Raras são as políticas de longo prazo. Tudo gira em torno de votos, de poder, de conveniências. Planejamento? Só o de manter-se no cargo.
Enquanto isso, as reformas estruturais vão sendo empurradas com a barriga. A reforma tributária de 2023, por exemplo, criou mais dúvidas que soluções, e promete só começar a funcionar plenamente em 2033. Até lá, continuamos cuidando do “boneco” como se fosse um filho real.
5. Pode até emocionar, mas não tem futuro
Muita gente se encanta com o bebê reborn, e há quem realmente se envolva emocionalmente. Mas todos sabem que ele não vai crescer, nem amadurecer. O Estado brasileiro, da forma como está, também não.
Enquanto se mantiver dependente da arrecadação crescente e da expansão desenfreada da máquina pública, será sempre uma criança mimada, incapaz de andar com as próprias pernas. E quem paga o berçário, a babá e os mimos? Nós.
Hora de parar de brincar de boneca
Está na hora de o Brasil crescer. De parar de se iludir com discursos populistas e enxergar que o Estado não é um bebê que precisa ser mimado, mas uma instituição que deve servir à população. Precisamos de um Estado eficiente, transparente, enxuto e comprometido com resultados, e não com aparências.
A era do “bebê reborn estatal” precisa acabar. Porque, diferente de uma boneca de coleção, o Brasil tem gente de verdade. E essas pessoas merecem um país vivo, pulsante e funcional, não um enfeite bonito que só serve para fotos.
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